Nivaldo Souza (nsouza@brasileconomico.com.br)
02/06/10 14:06
As brasileiras Dafra e Iros, a chinesa Traxx e a japonesa Kawasaki são algumas das fabricantes de motocicletas que decidiram estacionar no polo duas rodas da Zona Franca de Manaus nos últimos três anos.
A região se consolida como o ABC das motos e, agora, prepara para receber este ano seu maior investimento.
Serão US$ 2,8 bilhões para a instalação de fábricas, compra de insumos e componentes, e contratação de mão de obra.
O aporte será feito mesmo com o receio das empresas acerca da sustentação de crescimento do mercado brasileiro, que após a crise de 2008 registrou queda no volume de vendas.
“Antes da crise, a produção das empresas de Manaus vinha crescendo 16% ao ano. Mas, com a crise, as empresas estão com mais cautela”, observa o coordenador de projetos industriais da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Gustavo Igrejas.
Segundo ele, apesar das incertezas quanto ao mercado, existem oito novos projetos com autorização da Suframa para se instalar na região. Caso eles saiam do papel, o polo duas rodas de Manaus ampliará o número de montadoras de 12 para 14 e o de fabricantes de componentes, de 60 para 66.
Os investimentos são feitos de olho nos giros acelerados do ponteiro de vendas. O mercado saltou de 574 mil motos emplacadas em 2000, para 1,9 milhão em 2008 – o melhor desempenhos histórico do setor.
O recuo para 1,6 milhão em 2009 colocou em dúvida a capacidade das motos de acompanhar o setor automotivo.
“A projeção que tínhamos antes da crise era de que o mercado de motos seria igual ao de carros. Agora, acredito que o carro vai continuar na frente”, diz o diretor-executivo da Iros, Sérgio Alhadeff.
Já o diretor comercial da Honda, Roberto Akiyama, confia que o mercado chegará a 3 milhões de unidades vendidas em três ou quatro anos, puxado pela maior oferta de crédito e o aumento do poder de compra dos motoqueiros – ou aspirantes.
A previsão baliza a estratégia de crescimento da maior fábrica instalada no país. A Honda ampliou sua capacidade anual de produção, em 2009, de 1,5 milhão para 2 milhões de unidades.
“Consideramos a motocicleta um veículo para as classes C, D e E, dependendo da forma de aquisição. Com a estabilidade da economia e a disponibilidade de crédito, a venda deve crescer. Trabalhamos com essa perspectiva”, pontua.
Expectativa semelhante está na rota da Kasinski, que após ser adquirida pela chinesa Zongshen se prepara para ter um novo centro de produção em Manaus até 2012, no qual abrigará também a cadeia de fornecedores ao lado da fábrica.
“Hoje, temos uma motocicleta para cada 14 habitantes, mas há espaço para essa proporção chegar a uma moto a cada sete pessoas. Estamos vendo grande potencial no mercado brasileiro”, diz o presidente da empresa, Cláudio Rosa.
Nem todo mundo se dá bem
A Iros Motos, criada pelo grupo Microservice, mal teve tempo de sair do papel no ano passado e foi pega pela crise. A empresa entrou no segmento motoqueiro quando o mercado se retraía cerca de 15%, em 2009.
Havia instalado uma unidade para produzir anualmente 100 mil motos, com a meta de atingir 3% do mercado no quinto ano de operação.
“Antes de lançar a marca, tínhamos 25 concessionárias certas. Depois da crise, isso foi a zero. Hoje, temos 15 lojas e pretendemos atingir 50 em 2010”, diz o diretor Sérgio Alhadeff.
O susto fez a montadora revisar seus planos para baixo. Deixou a fábrica de Manaus paralisada e manteve somente uma linha de produção no Nordeste.
Planeja retomar a produção no final de julho para comercializar até 8 mil motos este ano. Para 2011, a meta é vender de 12 a 15 mil. “Acreditamos que o mercado é promissor no Brasil”, confia Alhadeff.