Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Lula culpa montadoras por queda no PIB


Para presidente, indústria se “precipitou” ao paralisar produção, o que influenciou na retração da atividade econômica

 

Procurada, Anfavea não se pronuncia sobre declarações; na Suíça, Lula sugere que fim dos paraísos fiscais seria “um bem para a humanidade”

 

MARCELO NINIO

DE GENEBRA

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a “precipitação” de setores como o automotivo em reduzir a produção no fim de 2008 foi um dos fatores que levaram à queda do PIB no primeiro trimestre.

 

A crítica veio no fim de um dia em que o presidente repetiu várias vezes, ao longo de uma série de discursos em Genebra, que a economia brasileira está num momento de forte recuperação. Acrescentou que o governo manterá investimentos em grandes obras como modo de combater a crise.

 

Na semana passada, o IBGE divulgou que o PIB no primeiro trimestre recuou 0,8% na comparação com os últimos três meses de 2008. Analistas esperavam resultado pior, embora o dado tenha configurado uma recessão “técnica” -dois trimestres seguidos de retração.

 

Em meio às manifestações de otimismo, Lula não escondeu o desagrado com a desaceleração de alguns setores da indústria.

 

“Temos um problema, que foi um pouco de precipitação de alguns setores da economia. Resolveram diminuir seus estoques e utilizaram o mês de dezembro para dar férias coletivas, o que diminuiu muito a produção.”

“Poderia citar o setor de automóveis, por exemplo, que desnecessariamente praticamente parou de produzir em dezembro para vender os carros que estavam estocados.”

 

Procurada, a Anfavea (associação das montadoras) não se manifestou sobre as declarações do presidente.

 

Ao exaltar a importância do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o presidente voltou a atacar seus antecessores, afirmando que o Brasil ficou para trás por falta de investimentos públicos.

 

“O Brasil estava em desvantagem porque ficou duas décadas atrofiado, sem fazer investimento. Agora que desencantou, não tem por que parar”, disse. Estamos em fase de recuperação extremamente importante, não só de investimentos internos mas externos.”

 

Em discurso aplaudido na OIT (Organização Internacional do Trabalho), o presidente defendeu o aumento da carga tributária a um “condizente” com as necessidades sociais de um país. Ele disse que, em visita recente a países da América Latina, observou que alguns têm carga tributária de 9% ou 12%, o que torna inviável a ação do Estado.

 

“A verdade é que um Estado com a carga tributária de 9% não existe como Estado”, afirmou Lula, sem esconder a admiração por países com alta arrecadação de tributos, como Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha, França e Itália.

 

Hoje, o presidente participará do primeiro encontro de chefes de Estado dos Brics, o grupo de emergentes formado por Brasil, China, Índia e Rússia. Na cidade russa de Ecaterimburgo, Lula disse que serão discutidas a coordenação de políticas contra a crise e possível substituição do dólar por moedas locais no comércio entre eles.

 

Paraísos fiscais

 

Lula aproveitou a viagem à Suíça, país considerado o destino número um do mundo em contas “offshore” (depósitos no exterior), para fazer ataques em série aos paraísos fiscais.

 

Depois de fazer um discurso pedindo a união de governos, trabalhadores e empresas na luta contra a prática, Lula discutiu o tema em almoço com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que lidera a intensa pressão internacional contra a Suíça e outros paraísos fiscais.

 

Lula lembrou que os dois encontros recentes das maiores economias do mundo no G20 trataram do tema, mas que agora é preciso aprofundar a discussão e colocar em prática normas que coíbam a prática.

 

“Se os países que compõem o G20 não tiverem condições de estabelecer normas de regulação, tudo vai ficar mais difícil”, afirmou o presidente.

“[O fim dos paraísos fiscais] Será um bem para a humanidade. Se o cidadão tem dinheiro, que guarde num banco que use o dinheiro para fazer investimento produtivo.”

 

Para o presidente, o fim dos paraísos fiscais “é difícil, mas não impossível”.