DA REPORTAGEM LOCAL
A pressão das centrais sindicais sobre o governo Lula para redução de juros, “spread” bancário e impostos revela que as representantes dos trabalhadores estão unidas para tentar amenizar o impacto da crise na economia brasileira, segundo informam as centrais.
Ações como a realização de greve geral de 24 horas e a pressão sobre o governo para a criação de medida provisória que garanta estabilidade no emprego e para fazer as reformas tributária, política e sindical estão na agenda das centrais, o que, segundo as entidades, mostra reação à onda de desemprego.
Artur Henrique, presidente da CUT, ressalta que as centrais vão protestar em conjunto no dia 27 de março, quando haverá um ato internacional em defesa de emprego e renda.
“Em um momento como este, o movimento sindical tem de ter responsabilidade para que, ao mesmo tempo em que faz mobilização, tenha disposição para negociar.”
O que não pode ocorrer, segundo o presidente da CUT, é uso da crise “como desculpa” para reduzir jornada e salários. “Isso está errado. Essa condição tem de ser avaliada caso a caso, com aprovação do sindicato de trabalhadores. No caso da Embraer, por exemplo, não houve sequer negociação com o sindicato”, afirma.
Sobre a falta de sintonia entre as centrais que atuam no Brasil, ele afirma que as entidades “nunca foram iguais na concepção e na prática”. Menciona a diferença entre a CUT e a Força (que defende medidas como a suspensão do contrato de trabalho) e a CUT e a Conlutas (central que se formou a partir de sindicatos dissidentes da CUT e ligados, principalmente, ao PSTU).
“A CUT não quer fazer acordo com central que propõe redução de jornada e de salário ou com central pseudo-esquerdista que só fala mal do governo e não propõe nada para resolver o problema do trabalhador. Estaremos juntos com as centrais que propõem crescimento econômico, geração de emprego e aumento real de salário.”
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, acredita que a suspensão do contrato de trabalho se mostrou eficiente na defesa do emprego. “Tal prova é o que ocorreu na Renault, no Paraná. A suspensão do contrato mostrou que estávamos certos em defendê-la porque evitou demissões. Em março, a empresa vai convocar ao menos metade dos metalúrgicos que tiveram contratos suspensos por cinco meses.”
Em sua avaliação, o que contribuiu para agravar as demissões no país foi o fato de o governo Lula não exigir contrapartida social para isenções fiscais concedidas a setores empresariais. “Há muitas críticas ao governo FHC, mas, no final dos anos 90, eu e o Marinho [Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e hoje prefeito de São Bernardo do Campo] negociamos estabilidade para os empregados do setor automobilístico. Em troca, as empresas conseguiram redução de IPI.”
Paulinho não descarta a realização de manifestações “mais radicais” para exigir corte nos juros. Para ele, a crise deve criar um debate sobre o papel dos sindicatos e das centrais no país. “Não estamos passivos. Mas temos de reconhecer que a estrutura sindical é arcaica e precisa de uma reforma para tornar os sindicatos mais fortes e representativos.” (CR e FF)