O Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (SINMGRA) reagiu fortemente ao anúncio da fábrica da General Motors (GM) no município de demitir 300 trabalhadores que regressariam ao trabalho nesta segunda-feira (02/05), após o período de cinco meses de layoff. Em entrevista coletiva na sede da entidade sindical, o presidente Valcir Ascari e o diretor jurídico Edson Dorneles anunciaram medidas que visam reverter o quadro e garantir o emprego dos funcionários que foram demitidos.
De acordo com Ascari, será buscada, por via judicial, a manutenção do emprego dos 300 trabalhadores, com o pedido de instauração de dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região, além de pressão junto a diretoria da General Motors.
– Vamos ao Tribunal com muito fundamento, mostrando que os motivos alegados pela montadora para demitir os trabalhadores são inconcistentes. Ao contrário do que dizem, no primeiro trimestre deste ano a unidade de Gravataí teve uma importante reação nas suas vendas, com 32.337 unidades de Onix e Prisma comercializados, superando os 27.480 vendidos no mesmo período de 2015. Entendemos que não há necessidade de demitir 300 pais e mães de família. Está na hora da GM olhar para essas pessoas que deram o melhor de si para ajudar no crescimento da empresa, que lucra muito, e não deixá-las a ver navios neste momento em que tanto necessitam de seus empregos para garantir o seu sustento e de seus familiares. O Sindicato buscou, em todo o período de layoff, dialogar com a montadora e viabilizar uma solução para os trabvalhadores que estavam fora. Como não fomos ouvidos, agora entendemos que chegou a hora de reagir contra esta situação e buscar, com muita força, garantir o emprego destes companheiros. A luta neste sentido está apenas começando – afirmou com ênfase Valcir Ascari.
Ascari e Dorneles também consideraram indigno o gesto da montadora de comunicar os trabalhadores de sua demissão via telegrama, num ato de completa falta de consideração com quem deu sangue pelo desenvolvimento da empresa.
– É preciso que todos tenham consciência de que essas demissões impactam muito negativamente na vida dos trabalhadores e seus familiares, e, também, numa reação em cadeia, na vida de outros milhares que atuam no comércio e no setor de serviços de Gravataí. A economia da cidade está combalida, a economia do Rio Grande do Sul está destroçada e ações como esta da GM contribuem apenas para tornar a situação ainda mais caótica. A General Motors é uma grande multinacional, com lucros gigantestos ao redor do mundo e que poder abrir mão de ganhar mais dinheiro em nome das pessoas que lá trabalham e da comunidade que tão bem a recebeu. É importante lembrar que o complexo automotivo responde por quase 55% da arrecadação do município de Gravataí – reforça Edson Dorneles.
O economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos (DIEESE), Ricardo Franzoi, também participou da coletiva, trazendo números importantes que comprovam a não necessidade da GM demitir 300 trabalhadores. Segundo ele, nos últimos 12 meses a montadora já havia desligado cerca de 800 funcionários na fábrica de Gravataí, sendo 102 apenas no primeiro trimestre deste ano. Estes ajustes já seriam suficientes para viabilizar a manutenção do seu quadro atual, sem a necessidade de novos desligamentos.
– Além disso, o Onix é, hoje, o carro mais vendido do Brasil, e o Prisma também está sendo bem vendido. Parecia que o pior momento da crise da montadora já havia passado, o que deixava os trabalhadores um pouco mais esperançosos na manutenção de seus empregos. Realmente acreditamos que poderia ser tomada uma medida mais razoável pela montadora, que não trouxesse o desemprego – lembrou o economista.
Em relação as demissões de metalúrgicos no município, Franzoi apontou que foram 3.975 desligamentos em 2014, outros 3.400 em 2015 e que no primeiro trimestre de 2016, já chega a 680 demitidos, sem contar esses 300 da GM,
Um destes trabalhadores da GM demitidos por telegrama no sábado é Cléverson Fraga, que atua na área de materiais. Ele salienta que está apavorado com a perda do emprego, pois trabalha na fábrica de Gravataí há 15 anos e não tem ideia do que irá fazer caso a situação não seja revertida.
– Trabalho na GM de Gravataí desde os 19 anos. Hoje tenho 34 anos e preciso do emprego para sustentar minha família. Receber um comunicado de demissão por telegrama é muito ruim. Fico me perguntado o que fazer daqui para frente. Ir em busca de um outro emprego é complicado, tendo em vista a situação do país. Minha grande esperança é que o SIndicato dos Metalúrgicos de Gravataí consiga reverter as demissões e que possamos voltar ao trabalho – enfatizou Fraga.
Ao final da coletiva de imprensa, Valcir Ascari voltou a lembrar que o Sinidicato do Metalúrgicos segue atendo e vigilante para as demandas dos trabalhadores do município. E que irá ao Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região com argumentos fortes para mostrar que as demissões só irão servir para desestruturar centenas de famílias e agravar a grave situação social e conomômica de Gravataí. Para ele, é óbvio que as empresas querem apenas obter lucro as custas dos trabalhadores, não tendo o mínimo de preocupação com eles na hora de adotar medidas que estanquem a diminuição destes lucros. De acordo com Ascari, não é mais possível que os trabalhadores paguem com seus empregos pelos desmandos do governo, que não consegue mais gerir a economia brasileira e deixa toda sociedadev apreensiva e sem saber o que fazer com seus recursos, criando medo de fazer novos gastos, o que leva a redução total de consumo e aumento da inadimplência.