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Sinais de desaceleração da economia reduzem expectativa de aperto de juro


Demanda ainda é forte, mas a produção desacelera indicando acomodação da atividade após período de maior crescimento em 15 anos

Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo 

SÃO PAULO – Depois de crescer no ritmo mais forte em 15 anos no 1.º trimestre, a economia brasileira dá vários sinais de desaceleração, que já levam o mercado financeiro a projetar uma alta menor da taxa básica de juros (Selic). Quarta-feira, por exemplo, o Banco Central (BC) informou que o Índice de Atividade Econômica, calculado pela própria instituição, ficou estável em maio em relação a abril.

No fim de junho, o BC divulgou seu Relatório de Inflação trimestral. Na avaliação de especialistas, o documento traçou cenário preocupante para a evolução dos preços, graças, principalmente, à atividade econômica aquecida. Ganhou espaço, então, a ideia de que a Selic subiria em todas as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) até o fim do ano – julho, setembro, outubro e dezembro.

No entanto, tal percepção começa a mudar por causa de vários indicadores divulgados nos últimos dias. A sensação é de que a demanda continua forte, mas em ritmo mais lento que o do primeiro trimestre, e a produção desaquece até mais rapidamente do que se esperava. Em abril, a produção industrial caiu 0,7% em relação a março. Em maio, houve estabilidade, o que surpreendeu os especialistas.

As projeções de mercado indicam que junho também foi fraco (o número oficial ainda não saiu). A economista Thays Zara, da Rosenberg & Associados, estima uma queda de 0,2% em relação a maio. Se isso se confirmar, diz ela, será o primeiro trimestre de baixa desde o estouro da crise global, em setembro de 2008.

Estoques

A contradição entre demanda forte e produção em baixa se explica pela “equalização dos estoques”, segundo explica o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. “A indústria teve muitos incentivos para produzir. Com o fim desses incentivos (como o IPI menor para vários setores), há uma acomodação.”

Os juros futuros caíram na quarta, em reação ao índice divulgado pelo BC. Os contratos para outubro negociados na BM&FBovespa fecharam em 10,93% ao ano, de 10,95% terça-feira. O contrato para janeiro de 2011 recuou de 11,26% para 11,21%.

Não se trata de uma queda pontual. O contrato para janeiro de 2012 – apesar de distante, é o segundo mais negociado na bolsa – saiu de 12,06% ao ano no fim de junho para 11,76% na quarta-feira.

Na segunda-feira, o boletim Focus, síntese de uma pesquisa do BC com instituições do mercado, mostrou que a expectativa para a Selic no fim deste ano saiu de 12,13% para 12%. Hoje, a taxa está em 10,25%. A estimativa para o IPCA, o índice oficial de inflação, de 2010 também caiu: de 5,55% para 5,45%, ainda acima da meta de 4,50%.

Na semana que vem, o Copom reúne-se para decidir se altera a Selic. No mercado, há quase um consenso de que será elevada em 0,75 ponto porcentual, para 11%. A mudança de perspectiva tem se dado para a partir de julho.

O economista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, acredita que a taxa vai parar nos 11%. Antes dessa sequência de indicadores mais fracos, ele apostava em uma alta adicional de 0,75 ponto em setembro. Thays, da Rosenberg, mantém a avaliação de que a taxa chegará a 11,75% ao ano em dezembro e Rosa, da Sul América, projeta 12,25% ao ano.