Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Siderúrgicas cuidam do futuro aposentado

Por Vera Saavedra Durão, do Rio

As empresas estão acordando para a necessidade de acompanhar o processo de aposentadoria de seus funcionários, na medida em que isto facilita a transmissão de conhecimento e formação de sucessores num cenário de mão-de-obra escassa. A avaliação é de Katia Raphael, diretora-executiva da Graphos Consultoria Empresarial que começa a implementar o Programa de Preparação de Aposentados (PPA) no setor siderúrgico, um dos mais tradicionais da indústria brasileira. “A Cemig ( geradora e distribuidora mineira de energia elétrica) já faz este trabalho há anos, mas o ramo siderúrgico está iniciando agora.”

A executiva foi contratada para aplicar o PPA na Vallorec-Mannesman, Açoforja e em outubro começa um programa de oito seminários na Açominas, empresa do grupo Gerdau. “Depois de investirem em problemas de desenvolvimento de seus funcionários por meio do coaching, de lideranças estratégicas, desenvolvimento de equipes, as empresas resolveram preparar quem está saindo para lidar com a realidade da aposentadoria”, comenta Katia. “O PPA busca preparar executivos e executivas para deixar as empresas para as quais dedicaram 30 anos de sua vida.”

Nas grandes empresas, como é o caso das usinas de aço, a aposentadoria é encarada como tirar o sobrenome do empregado. Ele está acostumado a ser chamado de “fulano da empresa tal”. É preciso trabalhá-lo até ele interiorizar seu sobrenome real, de pessoa física, ensina a executiva da Graphos.

Na Vallorec Mannesman a faixa de saída dos funcionários é aos 60 anos. Depois desta idade, eles podem até continuar a prestar serviços ou consultoria para a empresa, mas não é mais funcionário. O PPA de Katia prepara o futuro aposentado para sua nova vida nas dimensões saúde, incluindo cuidados médicos de geriatria, nutrição e sexualidade; psicológica, levantando questões de como lidar com a aposentadoria, mostrando que ela é um novo ciclo de vida, uma nova etapa. “As pessoas entendem a palavra aposentadoria de forma negativa, como vestir o pijama em casa. É preciso dar outro significado para esta palavra. E, para isto considero fundamental envolver a família nesse trabalho. O casal pode definir um novo projeto de vida.”

Trabalhar a dimensão família é necessário porque trata-se da importância de se voltar para casa. Se, por exemplo, homem e mulher se aposentam, os dois vão ficar juntos novamente e vão ter que aprender a lidar com isto, avisa Katia. Para conviverem bem com este retorno doméstico é preciso que eles o encarem como uma oportunidade de reencontro, de construir uma nova fase de suas vidas. Tem muita mulher que diz “não sei o que fazer com meu marido em casa”. E isto precisa ser repensado.

O ganho do PPA para a empresa é muito grande na avaliação da executiva da Graphos. A preparação para a aposentadoria garante o conhecimento e torna o futuro aposentado aberto a transmitir seu know-how para um substituto, pois passa a compreender a necessidade desta transmissão de experiência. “Antigamente, as pessoas iam embora e levavam todo o conhecimento com eles. O projeto prepara toda esta transição e o executivo que se aposenta não sai da empresa como um perdedor, mas como um ganhador com novo projeto de vida.”  

O PPA da Graphos é organizado em seminários. Na Vallourec Mannesman foram feitos oito seminários, cada um com 12 a 20 pessoas no máximo. Cada seminário dura de quinta a sábado e conta com turmas de futuros aposentados com suas esposas e maridos. No seminário é elaborado um programa de acompanhamento de um projeto de vida. A Vallorec Mannesman tem assistentes sociais que fazem acompanhamento individual dos seus aposentáveis. “Anualmente fazemos em geral quatro seminários nas empresas e um evento geral no fim do ano com todas as turmas juntas. Geralmente, são 20 aposentáveis e cônjuges, o que dá umas 40 pessoas em cada turma.”

Katia divide os aposentáveis das empresas onde implanta o PPA em dois grupos. Os de executivos e os profissionais que trabalham diretamente no chão de fábrica. Ela conta que as aspirações de projeto de vida destes grupos são bem diferentes. No caso dos executivos, por exemplo, um deles gosta de música e está se preparando para se dedicar a um projeto musical na nova vida. Outro, que gosta muito de viajar, já planejou com a mulher abrir uma agência de turismo. Entre os profissionais, o sonho de casa própria e ter filhos na faculdade já foi realizado. Como há diferenças salariais grandes entre eles, os profissionais geralmente pensam em voltar para casa e curtir a vida com a família.

O fato das siderúrgicas em geral terem plano de previdência privada para seus funcionários dá um diferencial muito grande na aposentadoria, pois eles saem do emprego com um salário razoável.

Para elaborar o PPA da Graphos, Katia contou que fez uma imersão em literatura sobre aposentadoria, psicologia do envelhecimento e estudou geriatria. “Com isto, comecei a trabalhar dentro de uma visão holística, trabalhando o indivíduo e a família. O PPA é uma imersão para dentro da pessoa, para ela refletir, conversar, resgatar relacionamentos, traçar um projeto de vida. São quatro dias de imersão para converter baixa estima em auto-estima ” .