Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Setor ainda espera novos pedidos de máquinas

Guilherme Manechini e Raquel Landim, de São Paulo

  

Com a normalização do crédito, as empresas voltaram a ter fôlego financeiro para receber as máquinas que encomendaram antes da crise. O destravamento dos negócios trouxe um alento para as vendas de bens de capital em março, mas a produção ainda não se recuperou. Os pedidos em carteira seguem fracos e, para os fabricantes de máquinas e equipamentos, é cedo para falar em retomada do investimento no país.

 

O faturamento das indústrias de bens de capital cresceu 30% em março em relação a fevereiro, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A produção física do setor, no entanto, caiu 6,3% na mesma comparação – um resultado na contramão da alta de 0,7% na produção industrial geral, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fevereiro teve menos dias úteis que março, mas que apenas o dado de produção recebeu ajuste sazonal.

 

Em encontro na última quinta-feira na sede da Abimaq, em São Paulo, os empresários do setor estavam surpreendidos com o desempenho das vendas em março. “A opinião geral foi de que esse número não reflete a entrada de novos pedidos, que despencou, e só será percebida nos resultados do segundo semestre”, disse o vice-presidente da entidade, José Velloso. A carteira de novos pedidos do setor recuou para 18,5 semanas de atendimento em março, 3,7% de queda sobre a média de 2008. A Abimaq projeta redução de até 30% no faturamento em 2009.

 

Velloso explicou que o balanço de março acumulou faturamentos programados originalmente para janeiro e fevereiro. Segundo ele, a falta de capital de giro em diversos setores fez com que pedidos fossem postergados, sendo retomados somente em março, quando o crédito voltou com maior vigor. Além disto, ainda estão sendo entregues máquinas de grande porte cujas encomendas são feitas com até um ano de antecedência

 

Na Mitutoyo, que fabrica instrumentos de medição e precisão em Suzano (SP), as vendas reagiram em março, com alta 30% em relação a fevereiro, mas voltaram a cair em abril, cerca de 20%, conta o gerente de marketing, Robinson Miki. Ele disse que a empresa aguarda o desempenho de maio para avaliar a tendência do mercado para o ano. Em relação a 2008, a queda nas vendas supera 30%. “O patamar do ano passado é um sonho. Já nem utilizamos como referência”.

 

A crise global provocou uma forte queda da produção industrial, inclusive de máquinas. Depois do exuberante crescimento de 18,9% de janeiro a setembro de 2008, a produção de bens de capital caiu 0,5% em outubro, 4% em novembro e 22% em dezembro, sempre na comparação com o mês anterior. No primeiro trimestre deste ano em relação a janeiro a março de 2008, a produção de máquinas recuou 20,8%, conforme o IBGE. Nesta comparação, os indicadores de vendas e produção estão alinhados. Segundo a Abimaq, o faturamento do setor caiu 20%.

 

O único segmento com bom resultado no primeiro trimestre, segundo os dados da Abimaq, foi bens de capital mecânicos, composto por máquinas de grande porte. O faturamento dessas empresas subiu expressivos 76,6% de janeiro a março em relação a igual período de 2008. O tempo médio de entrega dessas máquinas é de seis meses a um ano. “No caso de uma caldeira para usinas de açúcar e álcool ou um laminador para siderúrgicas, o prazo pode chegar a 3 anos”, lembrou Velloso.

 

Nas empresas que fabricam máquinas de menor porte, o cenário é diferente. Conhecida pela produção de máquinas-ferramenta, que possuem um ciclo de produção mais curto (entre 75 e 90 dias) e, por conseqüência, mais sensível ao comportamento da economia, a Indústrias Romi ainda não vislumbra uma retomada. A questão, segundo Hermes Lago, diretor comercial da companhia, é justamente a entrada de novos pedidos. “No nosso mercado, há uma sobreoferta causada pelo recuo da indústria mundial”, afirmou.

 

Na mesma linha, José Luiz Rubinato, diretor-geral da Yaskawa, especializada em inversores de freqüência, acredita que, se o mercado melhorar, será possível ao menos repetir o desempenho de faturamento de dois anos antes. “Acreditamos que no segundo trimestre começa uma tendência de melhora, mas nada comparado ao que foi visto em 2008. Consideramos o ano praticamente perdido”.

 

As importações de bens de capital se recuperaram em março – o que poderia ser interpretado como um sinal de retomada dos investimentos, mas ainda há muitas dúvidas. Em volume, as importações de máquinas cresceram 37% em março em relação a igual mês de 2008, aponta a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Mas os economistas temem que o dado esteja contaminado pela greve dos fiscais da Receita Federal, que ocorreu em março e abril do ano passado. Depois de subir mais de 50% em janeiro e fevereiro de 2008, a quantidade de máquinas importadas cresceu apenas 1% em março daquele ano. “Não acredito em retomada do investimento via importação, por conta da crise e porque o câmbio não está favorável”, disse Fernando Montero, da Corretora Convenção.

A avaliação dos técnicos do BNDES é menos pessimista do que a dos fabricantes de máquinas. Para Fernando Puga, chefe do departamento de pesquisa do banco, começaram a aparecer os primeiros sinais de recuperação do investimento. Ele citou dois indicadores do mês de março em relação a fevereiro: a alta de 40% das liberações da linha de crédito Finame para a compra de bens de capital e o aumento de 30% na venda de caminhões. “A sensação é de que o setor privado começa a cogitar uma retomada dos projetos”, disse.