Jacqueline Farid, Rio
Os sucessivos aumentos no rendimento médio real dos trabalhadores nos últimos quatro anos não foram suficientes, ainda, para anular as enormes perdas ocorridas entre 1996 e 2003. A renda dos ocupados chegou a R$ 960 em 2007, o maior patamar dos últimos oito anos, mas ainda 6% inferior à de 1996 (R$ 1.023), recorde na série da Pnad, iniciada em 1992.
O nível de rendimento, fundamental para medir a qualidade do mercado de trabalho, voltou a crescer pelo terceiro ano consecutivo em 2007: 3,2% em relação a 2006. O aumento, porém, foi menor do que os apurados em 2006 ante 2005 (7,2%) e em 2005 ante 2004 (4,5%).
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Márcia Quintlsr, explicou que o crescimento em ritmo menor pode ter relação com o aumento do salário mínimo, que subiu, em termos nominais (sem descontar a inflação), 8,5% em 2007 ante o ano anterior – variação bem inferior às de 2006 (17%) e 2005 (15%). “Além da geração de emprego e da formalização do trabalho, o aumento do mínimo influi muito nesse resultado.”
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, disse que, além do aumento do mínimo em patamar inferior ao de 2006, o ano passado foi também marcado por uma elevação na taxa de inflação, o que afetou negativamente o rendimento. A renda na Pnad é deflacionada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que, em 2007, ficou em 2,81%, quase a metade da taxa apurada no ano passado (5,16%).
Ainda de acordo com Vale, é possível que, já no próximo ano, a renda real chegue ao patamar de 1996. Ele afirmou que a recuperação ainda não ocorreu porque os ganhos nos anos imediatamente posteriores ao Plano Real foram muito elevados, sob os efeitos da inflação baixa e da aceleração forte do crescimento, com vigoroso ganho de produtividade nas empresas.
Porém, com a crise do câmbio de fins de 1999, a inflação voltou a crescer com mais força e houve redução no ritmo de expansão da economia, levando o rendimento a uma queda contínua até 2003. “Leva um tempo, mesmo, para uma recuperação total. Nos próximos anos ou, quem sabe, no próximo ano, podemos chegar àquele patamar”, afirmou Vale.
REGIÕES
A disparidade regional foi significativa no que diz respeito à remuneração dos trabalhadores. Enquanto, na média nacional, a Pnad apurou aumento de 3,2% na renda dos ocupados no ano passado, no Centro-Oeste a alta foi muito superior, de 8%. Enquanto isso, o índice do Sudeste foi de 1,9%.
O gerente do IBGE, Cimar Azeredo, disse que a renda do Centro-Oeste foi puxada pelo reajuste do funcionalismo público, com forte influência no Distrito Federal, e também pelo agronegócio. Enquanto a renda média no País era de R$ 960 em 2007, no Centro-Oeste ela chegou a R$ 1.139. Esse valor é quase duas vezes maior que a renda média real do Nordeste (R$ 606, o que representa aumento de 2,2% ante 2006).