Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Pobreza atinge 36%, aponta IBGE


Pesquisa inédita, com base em características regionais, aponta 62 milhões de brasileiros nessa condição em 2003

Daniele Carvalho, RIO

O primeiro Mapa de Pobreza e Desigualdade elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), divulgado ontem, mostrou que o País tinha 61,4 milhões de brasileiros, 36,5% da população, vivendo na pobreza em 2003. Diante das dificuldades de definir uma linha de pobreza, é a primeira tentativa do instituto, em parceria com o Banco Mundial, de criar uma metodologia capaz de levar em consideração as características socioeconômicas regionais.

O trabalho do órgão oficial de estatística do governo condensa dados do Censo de 2000 e da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2003, um ano antes de o governo Lula dar início ao Bolsa-Família. Foram traçadas 20 linhas regionais.

Utilizando pela primeira vez informações do consumo per capita, o estudo revela que 32,6% dos 5.507 municípios brasileiros tinham mais da metade de seus habitantes abaixo da linha de pobreza. Nesse grupo, 76,8% eram cidades nordestinas.

“O mapeamento tem como diferencial o detalhamento da incidência de pobreza em cada município, levando em conta a realidade socioeconômica de cada um. A pobreza no Nordeste tem características distintas da pobreza numa região metropolitana do Sudeste”, ressaltou Elisa Caillaux, coordenadora do projeto e pesquisadora do IBGE.

O Tocantins abrigava os três municípios do País com a maior incidência de pobres. Campos Lindos, Muricilândia e Mateiros apresentavam, respectivamente, de 84%, 81,8% e 81,5% de pobres na população. No extremo oposto, Santos, no litoral paulista, tinha a menor proporção de desvalidos: 4,5%.

O município mais rico do País, São Paulo, tinha 28,1% de habitantes na pobreza em 2003. Pirapora do Bom Jesus, no interior paulista, teve o pior desempenho do Estado, com 67,8% da população listada como pobre. No Rio, o índice era de 23,8%.

O estudo apurou, ainda, que a incidência da pobreza era maior nos municípios que tinham de 20 mil a 50 mil habitantes. Neste grupo, 39,6% tinham mais de 50% da população formada por pobres.

Na avaliação por região, o município com a maior incidência de pobres no Centro-Oeste era Simolândia (GO), com 81,5%. No Nordeste, Araçoiaba (PE) era líder, com 81% e, no Sul, Paranapoema (PR), com 55,7%. Japeri (RJ) teve o pior desempenho do Sudeste, com 76,4%.

O IBGE calculou a distância para que os indivíduos superem a linha da pobreza, segundo as características regionais. Mais uma vez, os três municípios de Tocantins lideravam o ranking. Os habitantes das cidades tinham consumo mensal, em média, 50% inferior ao ideal.

Quando avaliada a participação de indivíduos que sobreviviam na extrema indigência – não consomem uma cesta mínima de calorias diária – Campos Lindos apresentou a pior colocação, com 62,4% da população.

ATUALIZAÇÃO

A gerente da pesquisa admite que as políticas de transferência de renda como o Bolsa-Família, que já alcançam mais de 10 milhões de famílias, podem ter alterado o mapa desde 2003. Os três municípios citados do Tocantins têm 1.066 famílias no cadastro do Bolsa-Família.

“Só uma nova pesquisa, que já está em campo, nos dará um retrato preciso”, disse Elisa. A Pesquisa de Orçamento Familiar 2007-2008 está em campo e o IBGE espera ter um mapa atualizado após o Censo 2010. COLABOROU ALEXANDRE RODRIGUES

Para socióloga, geografia e baixo analfabetismo beneficiam Santos

Com 418 mil habitantes, Santos era a cidade brasileira com menor proporção de pobres em 2003. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgada ontem, apenas 4,6% da população do município está abaixo da linha da pobreza e consome até R$ 149,78 por mês.

Especialista em cultura e mestre em educação popular, a socióloga Edna Gobetti Vieira Coelho lembra que Santos ganhou no ano passado o título do Ministério da Educação de cidade livre do analfabetismo. “Temos sempre que ligar analfabetismo à pobreza e, em Santos, o número de analfabetos é mínimo. O investimento em educação é prioritário”, afirma a professora da Universidade Católica de Santos (UniSantos).

Segundo Edna, a geografia de Santos impede a concentração de pobreza. “Os morros são urbanizados, as pessoas com menos poder aquisitivo concentram-se nas cidades vizinhas.”

Tocantins tem três cidades com panorama oposto ao de Santos: lá, a pobreza é a regra. Em Mateiros, porta de entrada para o Jalapão, região que abriga desertos com dunas e cachoeiras ainda pouco exploradas, 81,5% dos cerca de 1,8 mil moradores viviam em situação de extrema carência em 2003.

Em Campos Lindos, a agricultura não parece ter transformado a vida de 84% dos seus 7.858 moradores, que também vivem abaixo da linha da pobreza. Lá estão algumas das maiores plantações de soja do Estado. Em Muricilândia, 81,8% dos cerca de 2,6 mil moradores sobreviviam em condições de extrema pobreza em 2003.

No Sudeste, a campeã no ranking da pobreza é Japeri, na Baixada Fluminense. Entre 2003, ano do levantamento do IBGE, e 2008, a cidade viu a população ultrapassar 93 mil pessoas e o programa Bolsa-Família alcançar 5,2 mil famílias, mas o cenário não mudou muito. O benefício atinge um terço do número de famílias pobres estimadas a partir dos números do IBGE.

REJANE LIMA, ALEXANDRE RODRIGUES E JOCYELMA SANTANA

IDH muda, mas País mantém posição

Brasil tem leve melhora no índice que mede a qualidade de vida

Lisandra Paraguassú e Lígia Formenti, BRASÍLIA

O Brasil manteve-se na 70ª posição no relatório preparado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud). Isso significa que continua a integrar a lista de nações que alcançam alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), acima de 0,800, e ostentam boas condições de renda, saúde e educação.

Essa lista já não é mais tão seleta quanto nos anos 90, quando não reunia mais do que 35 países. Com a recente revisão da metodologia usada pelo Pnud, atualizando a contagem do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, a categoria mais alta do IDH inchou e chegou a 75. Nela figuram hoje Venezuela, Equador e Casaquistão, entre outros países com condições de vida que não podem ser consideradas das melhores.

A mudança para o relatório deste ano atualizou os preços comparativos internacionais em mais de 146 países. Até o relatório do ano passado, os dados de poder de compra usados para efeito de comparação do PIB eram baseados em preços coletados em 1993. O estudo atualizou os preços para 2005, incluindo países que não participavam dessa análise, como a China. Com a mudança, o PIB de 70 países caiu e o de outros 60, subiu.

Os países exportadores de petróleo foram os maiores beneficiados com a mudança de critérios, por causa do aumento do preço do produto nos últimos anos. De acordo com o relatório, o crescimento do PIB foi de 30% ou mais nos países do Golfo Pérsico, Angola, Nigéria e também Venezuela, que subiu 13 posições . O coordenador do relatório no Brasil, Flavio Comim, explica que a receita extra gerada pelo petróleo permitiu ao governo Chávez subsidiar preços de vários produtos, elevando o poder de compra da população.

A revisão fez Argentina perder 8 pontos no ranking, passando para a 46ª posição. O Equador, por outro lado, subiu 17 pontos.

De acordo com especialistas, as mudanças acabam ocultando problemas reais nos países. O problema já foi percebido pela ONU, que deve revisar os critérios para a apresentação do IDH de 2010, segundo o coordenador Comim.