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Piora da crise impõe dilema ao Copom

Mercado interno deve desacelerar, mas desvalorização do real pressiona preço

Segundo analistas, o mais provável é que, nesse clima de incerteza, a taxa básica de juros seja mantida, na quarta-feira, em 13,75%

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pelo agravamento da crise nos mercados financeiros e pela ameaça de recessão global, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) se reúne amanhã e depois de amanhã cercado de incertezas sobre o rumo da inflação e do nível de atividade no Brasil. Segundo analistas ouvidos pela Folha, o mais provável é que, nesse clima de incerteza, a taxa Selic seja mantida nos atuais 13,75% ao ano.

Os juros estão em alta desde abril, quando, segundo o BC, havia sinais de que a economia brasileira estava crescendo em um ritmo excessivamente acelerado, o que poderia gerar pressões sobre a inflação.

O objetivo do BC com o aperto monetário é fazer com que a inflação do ano que vem volte para os 4,5% previstos no centro da meta fixada pelo governo. Neste ano, a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar em cerca de 6,2%, segundo projeções.

Para a economista Marcela Prado, da Tendências Consultoria, se não fosse o agravamento da crise internacional, o mais provável seria que o BC continuasse com seu ciclo de aperto monetário. “Por causa da crise, o Copom não deve mexer na Selic. Aumentaram muito as incertezas em relação ao comportamento da inflação, e o BC deve esperar até ter um pouco mais de informação sobre esse cenário”, afirma.

Segundo ela, ainda não está claro qual será o efeito da crise no Brasil, já que um desaquecimento mundial certamente terá impactos sobre o país. “É possível que a crise faça um pouco do papel que era do BC e desacelere a economia”, diz.

Por outro lado, diz, a alta do dólar encarece os importados e dificulta o controle da inflação, o que torna ainda mais complicada a decisão do Copom, pois não está claro se a desvalorização do real pode se reverter após este momento mais agudo da crise. Para ela, o Copom deve aguardar até dezembro para, se for o caso, retomar o processo de alta dos juros.

Já o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, também cita a desaceleração da economia mundial e o comportamento do câmbio como fatores de incerteza que devem levar o Copom a não mexer nos juros, mas diz não acreditar numa retomada do processo de alta da Selic em dezembro.

“Seria um tiro no pé do BC, uma contradição em relação às medidas que têm sido adotadas”, diz, em referência às reduções nos recolhimentos compulsórios (parcela dos depósitos bancários que fica retida pelo BC) anunciadas nas últimas semanas para estimular o crédito. Ele lembra que o nível de atividade industrial costuma se reduzir entre novembro e fevereiro e que indicadores a serem divulgados nos próximos meses já mostrarão desaceleração da economia.