Folha SP
Segunda maior economia do mundo avançou 8,9% no último trimestre, a menor taxa em dois anos e meio
Desaceleração pode afetar os preços das commodities, o que reduziria o valor das exportações brasileiras
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
O crescimento da China desacelerou para 8,9% no último trimestre de 2011, diante de 9,1% no trimestre anterior – a menor taxa em dois anos e meio, diante de queda na demanda por parte da Europa e problemas no mercado imobiliário chinês.
O resultado foi melhor que os 8,7% estimados por analistas, que apostam em “pouso suave”, ou seja, desaceleração controlada da segunda maior economia mundial.
No ano de 2011, a China cresceu 9,2%, comparado com 10,4% em 2010. A expectativa é que a taxa caia para 8,5% em 2012.
“Levando em conta a situação doméstica e internacional, 2012 será um ano de desafios, portanto devemos estar preparados”, disse Ma Jiantang, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China. Segundo ele, o país vai enfrentar “um ambiente internacional sombrio, muito complicado, por causa da lentidão das principais economias desenvolvidas”.
O crescimento menor do PIB vem se somar a uma série de indicadores apontando para uma nova fase de desaceleração na China. O crescimento do investimento caiu de 25% em outubro para 18,5% em dezembro.
Em 2011, as vendas de imóveis caíram para o menor nível em três anos. O investimento estrangeiro direto na China também desacelerou -cresceu 9% em 2011, chegando a US$ 115 bilhões, depois de ter avançado 17% em 2010.
O grande temor de economistas era que a China sofresse uma “freada brusca” na tentativa de reduzir a inflação e fosse atingida pela queda na demanda por suas exportações por países desenvolvidos. Hoje, com a crise da dívida se aprofundando na Europa e a recuperação nos EUA ainda anêmica, o mundo depende muito da China.
Mas, para analistas, a desaceleração está se dando da forma menos traumática para o resto do mundo e parece configurar um “pouso suave”, lentamente levando o crescimento para taxas mais sustentáveis. “Não há sinais de que a economia chinesa esteja se deteriorando de forma forte. Esperamos um pouso suave”, diz Flemming Nielsen, do Danske Research.
COMMODITIES
Para o Brasil, os maiores efeitos serão sentidos na balança comercial, segundo José Augusto de Castro, presidente interino da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). Atualmente, a China é o maior destino das exportações brasileiras -comprou US$ 44,314 bilhões em 2011, ou 17,3% do total.
Com a desaceleração da economia mundial e da China, o presidente da AEB prevê uma queda no preço das commodities, principal produto da pauta do Brasil, que deve levar a uma redução de US$ 20 bilhões (8%) nas exportações em 2012.
Castro prevê, por exemplo, que o preço médio do minério de ferro, o principal produto exportado pelo Brasil, seja de US$ 105 por tonelada em 2012 -ante US$ 126, em média, em 2011. “A queda no crescimento chinês é pequena; ainda não vemos redução generalizada na demanda.”
Em 2008, a economia chinesa desacelerou fortemente no último trimestre e o governo respondeu com um pacote de estímulo de US$ 585 bilhões. O pacote evitou desaceleração do crescimento, mas deixou um rastro de inflação, bolha imobiliária e inadimplência. Ao longo de 2011, o governo em Pequim tentou lidar com esses problemas, apertando o crédito imobiliário e combatendo diretamente a inflação.
Com a crise global, no entanto, a China começou a afrouxar sua política monetária em novembro, reduzindo o depósito compulsório.
Mas Pequim não tem muita margem de manobra desta vez por causa dos efeitos do último pacote de estímulo, que aumentaram muito o nível de endividamento dos governos das províncias.