Em 2011, dados serão nacionais, com divulgação trimestral após 2013
Jacqueline Farid, RIO
As demissões provocadas pela crise financeira internacional deverão chegar à taxa oficial de desemprego somente nos dados de janeiro, que, por sua vez, serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fevereiro. O levantamento limita-se às seis principais regiões metropolitanas do País, mas atinge 25% dos trabalhadores brasileiros, segundo explica o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), Cimar Azeredo. A partir de 2011, a pesquisa terá abrangência nacional e a divulgação, hoje mensal, ocorrerá trimestralmente a partir de 2013.
Segundo Azeredo, ainda que a pesquisa não enfoque algumas regiões onde houve demissões maciças, como Itabira (MG), que concentrou boa parte das 1.300 demissões da Vale, a pesquisa do IBGE é capaz de espelhar os efeitos da crise no mercado de trabalho. “Isso ficou provado em 2003, quando a recessão bateu forte na pesquisa”, lembra ele.
As taxas de desemprego em 2003, primeiro ano no governo Lula, quando a economia amargava a ressaca da crise de confiança provocada pelas eleições no ano anterior tiveram altas recordes na série da pesquisa iniciada em 2001.
A PME não inclui no cálculo as férias coletivas determinadas por muitas empresas a partir de outubro do ano passado, mas apenas contratações e demissões. Além disso, os informantes são exclusivamente as pessoas entrevistadas pelo instituto e não há dados fornecidos por empresas.
A pesquisa do IBGE foi criada em 1981 e tinha como objetivo inicial investigar o mercado de trabalho nas nove regiões metropolitanas do País mas, por problemas de falta de recursos, acabou se restringindo a apenas seis regiões.
Azeredo admite que a pesquisa nacional que será realizada daqui a dois anos será mais completa, mas garante que o levantamento atual espelha a tendência de todo o País.
O argumento é que as regiões metropolitanas pesquisadas – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre – são muito representativas. No caso do mercado paulista, o maior do País, estão incluídas cidades como Osasco, Santo André e São Bernardo do Campo, polos industriais importantes. Em Belo Horizonte, a pesquisa investiga também o município de Betim, onde está instalada a Fiat.
Azeredo explica que a mudança metodológica que ocorreu na pesquisa em 2001 seguiu as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT). As transformações mais importantes consistiram na mudança do questionário efetuado pelos pesquisadores e a implantação do primeiro sistema eletrônico de coleta de informações da América Latina.
PNAD
A PME vai desaparecer gradualmente, cedendo lugar a uma Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a ser divulgada a cada trimestre e que será lançada em 2011.
Hoje, a PME é mensal e metropolitana, enquanto a PNAD só é apresentada uma vez por ano, com dados completos e nacionais sobre o mercado de trabalho e os domicílios. Até 2013, as duas pesquisas vão coexistir. A partir daí, a PME será substituída pela PNAD trimestral.
Na quinta-feira serão apresentados os resultados finais da PME de 2008, que deverá mostrar a menor taxa de desemprego anual apurada pelo IBGE na série iniciada em 2001.
O último dado da pesquisa divulgado pelo instituto, relativo a novembro, mostrou uma taxa de 7,6%: a menor para o mês na série. Historicamente, a taxa de dezembro é a mais baixa do ano.
CAGED
A principal diferença entre a PME e os dados do Cadastro Geral de Empregador e Desempregados (Caged), formulado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, é que, enquanto o Caged refere-se exclusivamente ao emprego formal, com carteira de trabalho, a partir de informações obrigatórias de contratações e demissões fornecidas automaticamente pelas empresas, a pesquisa do IBGE abrange também o emprego sem carteira assinada, o empregador e o trabalhador por conta própria, como camelôs e profissionais liberais.
Além disso, o Caged tem abrangência nacional e não se restringe às áreas metropolitanas, como a PME. Em novembro, enquanto o IBGE apontava estabilidade no número de empregados com carteira assinada ante outubro, os dados do Ministério apontavam um recuo de 0,13% no emprego, com perda de 41 mil vagas.
´´Muitos têm medo de nos receber´´
Pesquisador do IBGE ouve palavrões e desaforos
Daniele Carvalho, RIO
Há cinco anos, o agente pesquisador José Rodrigues Augusto Gomes segue a mesma rotina de trabalho. Munido de palmtop e de um colete com a inscrição IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ele percorre cerca de 20 domicílios por dia coletando informações para a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Gomes, que atua na zona sul do Rio, diz ainda não ter observado os reflexos da crise em suas entrevistas. “Minha área abrange pessoas de classe média e média alta. Estas áreas devem ser as últimas a sentir o impacto da crise no emprego”, analisa ele.
Gomes é um dos 500 profissionais que trabalham nas seis regiões metropolitanas onde o levantamento é feito e que ajudam a traçar o retrato do emprego no País. Não é uma missão simples abordar os entrevistados desconfiados, o primeiro obstáculo que encontra. “Com o aumento da violência, muita gente tem medo de nos receber. Outros, lamentavelmente, disparam grosserias e palavrões. Mas não podemos desistir”, narra ele.
A dificuldade não deveria existir, uma vez que o IBGE envia uma semana antes de sua visita uma carta ao domicílio a ser pesquisado. “Essa carta traz um panfleto explicando a PME e a importância de respondê-la. Não chegamos de surpresa”, frisa ele.
A experiência adquirida nesses cinco anos fez Gomes chegar a uma conclusão: é mais fácil fazer a pesquisa nas áreas de menor poder aquisitivo da região metropolitana do Rio. “Na zona norte e nas favelas, observo que as pessoas fazem questão de participar. Servem até bolo e refrigerante para o pesquisador”, relata Gomes.
“Já na zona sul, área em que atuo, é diferente. Muita gente se nega a nos responder e a arrogância é grande. Mas a pior área de trabalho é a Barra da Tijuca. Já ouvi muito desaforo”, reclama o pesquisador.
Os agentes pesquisadores do IBGE têm horário livre de trabalho. Gomes diz que prefere iniciar sua ronda por volta das 15h e segue até as 21h. “Assim fica mais fácil achar o pessoal em casa. Sábado, quando não é dia de praia, é também uma boa ocasião para fazer a pesquisa”, observa.
Ao ser recebido em uma residência, entabula perguntas que, segundo ele, não duram mais do que sete minutos. “É rápido. Em média, são feitas 20 perguntas”, detalha. O universo de perguntas feitas pelo IBGE engloba escolaridade, formação profissional, horas trabalhadas, remuneração, entre outras.
Caso o entrevistado esteja desempregado, as indagações abordam sobre o tempo em que se encontra nessa situação, prazo em que está a procura uma nova ocupação e quando ocorreu o último contato feito com um possível empregador.
Cada domicílio é pesquisado por quatro meses consecutivos. Cumprido esse prazo, a residência fica oito meses sem receber a visita do IBGE e depois volta a ser procurada por mais quatro meses consecutivos. Depois desse rito, a casa é substituída por outra. A cada mês, há renovação de um quarto dos domicílios consultados pela PME.
MULTA
O que muita gente ainda desconhece é a obrigatoriedade de receber os agentes do IBGE. “Quando um domicílio se nega a nos atender, o IBGE envia comunicado alertando que o decreto 13.177, de novembro de 1973, prevê pagamento de multa de até 20 salários mínimos para quem se recusa a nos atender”, informa o pesquisador.
Apesar da rotina puxada e nem sempre amistosa, José Gomes, que já atuou em outras áreas no IBGE, afirma sem titubear: “Gosto muito do meu trabalho.”