Marcos de Moura e Souza, de São Paulo
As principais centrais sindicais do Paraguai convocarão uma greve geral se o governo não reajustar o salário mínimo. A greve colocaria um fim à aliança entre o presidente Fernando Lugo e os sindicatos, que o apoiaram na eleição do ano passado.
A equipe econômica de Lugo resiste à pressão por reajuste, alegando que as incertezas provocadas pela crise econômica internacional impedem o governo a conceder aumentos neste momento.
Lugo, um bispo católico com inclinação socialista, teve forte apoio de sindicatos e de grupos de esquerda na eleição. Mas, sete meses depois de tomar posse, corre o risco ver parte de sua base de apoio se voltar contra seu governo.
A última greve geral promovida pelas centrais sindicais paraguaias ocorreu em 2002, durante o governo do presidente Luis González Macchi, do Partido Colorado – que governou o Paraguai por 61 anos, até ser derrotado por Lugo.
No dia 30, as quatro maiores centrais do país decidem em um congresso conjunto se cruzarão ou não os braços. A paralisação ocorreria no dia 30 de abril ou 1º de maio, segundo os sindicalistas. Amanhã, as centrais promovem um protesto em frente ao Ministério da Fazenda.
A ameaça de greve ganhou força após o ministro da Fazenda, Dionísio Borda, ao lado do presidente do Banco Central e de outros ministros, terem anunciado na terça-feira adiar o reajuste. A decisão contrariou a recomendação do Conselho Nacional de Salários Mínimos (Conasam) a favor do aumento. O conselho é integrado pelo governo e por representantes de trabalhadores e empregadores. Por lei, toda vez que o índice de preços ao consumidor passa dos 10%, o conselho é acionado para avaliar se é o caso de recomendar um reajuste salarial. Segundo dados do governo, a inflação desde o último reajuste – em dezembro de 2007 – chegou a 10,3%.
“Nós apoiamos o presidente Lugo, ajudamos sua candidatura, mas queremos que a lei seja cumprida e que o governo reajuste o salário mínimo”, disse ontem ao Valor o secretário-adjunto de Relações Internacionais da Central Nacional de Trabajadores de Paraguay (CNT), Pedro Parra. “Estamos abertos ao diálogo com o governo, mas é greve é um direito, que será decidida como último recurso.” O secretário geral da entidade, Miguel Zayas, foi mais longe prometendo “uma greve que superará as maiores greves da história”. As centrais cobram um reajuste de 25%, em três ou quatro vezes. Mas possivelmente aceitariam um aumento perto dos 10%, como os concedidos nos últimos anos. O mínimo equivale hoje a US$ 260.
No comunicado de terça, a equipe econômica diz que a “modificação do salário mínimo legal na conjuntura presente poderia gerar cortes de pessoal do setor formal da economia e no contexto de crise internacional cabe garantir a preservação dos postos de trabalho”.
O governo quer que os empregadores façam “o máximo para manter os postos de trabalho frente à crise e na medida do possível a contribuírem para a formalização do mercado de trabalho”. “Uma vez que as condições econômicas melhorem, se analisarão os mecanismos que permitam a compensação da perda do poder aquisitivo dos trabalhadores”. A taxa de desemprego no país está em 14%.