Setores químico, eletroeletrônico e de bens de capital alertam para desindustrialização de etapas da produção
Alerta aponta que a indústria perdeu participação no PIB brasileiro a partir de 1995, após o real
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A LIMEIRA
São 30 operários, onde já estiveram mais de 250. Todos já leram a frase: “Do progresso desta indústria depende nosso bem-estar”. O texto orna a parede da seção onde a Kone, indústria de Limeira (SP), produzia bens de capital. O principal negócio agora é comprar bens chineses.
A Kone integra o rol de indústrias brasileiras que se renderam aos asiáticos. A história de debilidade da Kone é parte de uma questão que atormenta lideranças industriais. Para eles, o Brasil se desindustrializa.
Segundo ele, o fenômeno já é visível nas indústrias química, de bens de capital e eletroeletrônica, por exemplo, lâmpadas ou de equipamentos de segurança, só montados aqui.
Custo de capital elevado, importações facilitadas pelo câmbio ou pela fraude, carga tributária implacável. A novidade é que essa situação está corroendo o interior das cadeias industriais no país, assegura a indústria.
“De repente, um componente produzido aqui deixou de ser. E no lugar entra um importado. Trazido a preço muito mais baixo. É o primeiro passo para trazer o produto pronto”, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.
MONTADORES
Entre as produtoras de lâmpadas, por exemplo, sobrou uma, a Osram. As outras fecharam as portas. O deficit na compra de lâmpada dispara. De janeiro a maio deste ano, o país comprou US$ 192 milhões. Em 2009, no mesmo período, o deficit foi de US$ 71 milhões.
Barbato afirma que o crescimento econômico tem mascarado o fenômeno. Para Roberto Nicolsky, diretor-geral da Protec (organização pró-inovação industrial), a indústria definha.
“Os números de patentes obtidas pelo país, do deficit em produtos sofisticados ou do uso de patentes ou licenças mostram. O país perde sua capacidade de inovar [veja quadro]”, diz.
A Protec aponta que a indústria manufatureira brasileira, que respondia por 28% do PIB, em 1995, hoje representa 13,5%.
Especialistas debatem o fenômeno, pois, em países desenvolvidos, a indústria cedeu espaço para os serviços. Mas em outro emergente, a China, a indústria de transformação sustenta 46,3% do PIB. Na Coreia do Sul, 25%.
A indústria perde para o PIB. “No real, o Brasil cresceu 46,6%. A indústria cresceu 33,3%. A indústria de transformação, apenas 20,2%”, enumera. No mesmo período a China cresceu 198,7%, e a Índia, 135,9%.
“Não é um crescimento sustentável. Estamos nos alimentando do futuro, isso não tem vida longa”, alerta Nicolsky. É esse modelo de crescimento (ancorado no consumo das famílias, e não na produção industrial) que tem puxado as importações. E os números são de dezenas de bilhões.
Para Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a importação de máquinas é a maior ameaça da indústria de máquinas e equipamentos no país.