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OMC vê onda protecionista com a crise

Se a tendência for mantida, será mais difícil países se recuperarem, diz Lamy

Brasil é criticado por elevar financiamento do Proex a empresas de exportação e por conceder US$ 1, 6 bi de crédito a setor automotivo

MARCELO NINIO

DE GENEBRA

O mundo caminha perigosamente em direção ao protecionismo, alertou ontem o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy. Se for mantida, essa tendência “sufocará” o comércio global e tornar mais difícil a saída da crise.

Em um relatório enviado aos membros da OMC, Lamy diz que, desde a última avaliação, há três meses, o livre comércio sofreu um “deslize significativo”. Tanto países industrializados como em desenvolvimento, disse ele, ergueram barreiras às importações para resguardar a economia doméstica.

O Brasil é elogiado pela decisão do presidente Lula de voltar atrás na aplicação de licenças de importação, mas não fica de fora da lista de países que adotaram medidas de protecionistas. Entre elas, o aumento do financiamento pelo Proex a empresas de exportação, a concessão de crédito de US$ 1, 6 bilhão à indústria automobilística e a redução de impostos na compra de veículos.

Segundo Lamy, ainda não há sinais de uma onda de protecionismo de “alta intensidade”, como a que provocou as guerras comerciais da época da Grande Depressão, na década de 1930. Mas alertou que “o perigo hoje é uma escalada de restrições que poderia lentamente sufocar o comércio internacional” e atrasar a retomada.

Ele ressaltou que os problemas na área financeira tornam quase impossível avaliar se o fim da crise está próximo. “Ninguém pode prever claramente qual será a profundidade desta recessão, ou quanto ela irá durar, mas não pode haver dúvida sobre a fragilidade da economia mundial”, disse.

Lamy fez o relato aos membros da OMC dando claramente um recado aos participantes da cúpula do G20, na próxima semana em Londres. Convidado pelo anfitrião, o premiê britânico, Gordon Brown, Lamy levará a mensagem de que o protecionismo é a pior arma para combater a crise.

Doha

Ele ressaltou a importância de um acordo na Rodada Doha de liberalização comercial, que serviria como seguro contra o protecionismo. Nesta semana, a OMC divulgou a projeção de que o comércio mundial cairá 9% neste ano, na pior contração desde a Segunda Guerra.

“O pacote de acesso aos mercados de bens agrícolas e industriais que está sobre a mesa é equivalente a um novo plano de estímulo para consumidores, de quase US$ 150 bilhões”, disse Lamy, que, no último domingo, se reuniu em Genebra com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, para falar de Doha.

O relatório de Lamy lista dezenas de medidas com viés protecionistas aplicadas pelos países nos últimos meses. Para o diretor-geral da OMC, pacotes de estímulo fiscal e de ajuda a setores em dificuldade são bem-vindos para reaquecer a produção econômica. Mas trazem o risco de provocar uma perigosa reação em cadeia de medidas protecionistas.