Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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OIT prevê 20 milhões de demissões

Documento da entidade também projeta um aumento de 140 mil miseráveis até o fim de 2009, por causa da crise

Jamil Chade

A atual crise econômica vai produzir 20 milhões de novos desempregados no mundo até o fim de 2009, revertendo anos de avanços na área social e agravando a pobreza e a desigualdade. O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê demissões em massa diante da desaceleração das principais economias do mundo e um aumento de mais de 140 milhões de miseráveis. Em evento ao qual o Estado foi o único jornal latino-americano a ser convidado, o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, deixou claro que o Brasil “não estará imune ao problema”. Um documento interno da OIT alerta para a queda da produção industrial e das exportações do País e adverte que o governo precisará rever seus gastos e focar suas atenções na luta contra o desemprego urbano.

Pelos cálculos da OIT, o impacto social da crise será profundo. O número de desempregados passará pela primeira vez dos 200 milhões de pessoas no mundo. A OIT apela para que as medidas tomadas pelos governos não salvem apenas os bancos, mas pessoas e trabalho. “Passaremos de 190 milhões de pessoas sem trabalho no início de 2008 para cerca de 210 milhões. Essa é a primeira vez na história que a humanidade atinge esse marca”, disse Somavia. Os 20 milhões de desempregados seriam criados, portanto, em apenas dois anos. Nos anos 90, o mundo levou dez anos para ver um aumento de 34 milhões de desempregados.

Por enquanto, a OIT afirma que não pode dizer exatamente em quais países esse desemprego vai ocorrer com maior intensidade. Mas destaca que a falta de crescimento nos países ricos terá conseqüências para os trabalhadores nessas economias. Os países emergentes não sairão ilesos. “A idéia de que as economias emergentes estariam descoladas do processo simplesmente não tem qualquer relação com a realidade. Só se fosse por mágica”, disse Somavia. “Os governos precisam unir forças para evitar uma crise social longa, severa e global.”

Para a OIT, o Brasil “dificilmente” conseguirá repetir a marca de 2008 no próximo ano, criando cerca de 2 milhões de empregos. Um documento interno da OIT ainda aponta que a crise já “afetou o mercado de crédito e de câmbio” no Brasil. “Os efeitos indiretos da crise, provocados pela desaceleração dos Estados Unidos e outros países ricos, vão afetar as exportações e a produção industrial do Brasil. Os investimentos também podem ser atingidos.”

“O Brasil provavelmente terá de rever seus padrões de gastos e focar no desemprego e inflação”, diz a OIT. Para a entidade, o desemprego urbano no País ainda é grande. Para lidar com a crise, a OIT pede que o País reduza a informalidade no trabalho, que chega a 70%. Outra medida é ampliar a cobertura de seguro-desemprego.

Somavia alerta que o número de novos desempregados no mundo pode ser ainda maior. “Esses dados podem estar subestimados”, disse o chileno que dirige a entidade ligada à ONU. Os cálculos do desemprego foram feitos com base nos dados de crescimento divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). “Para 2009, teremos um crescimento de 0,1% nos Estados Unidos, 0,2% na Europa e 0,5% no Japão”, disse. “Isso, na realidade, significa um crescimento zero nas maiores economias do mundo.” Pelas novas projeções do FMI, o mundo crescerá 3,2% em 2009. A taxa será mantida acima de 3% graças aos países emergentes.

Mas um dos principais impactos ainda será na classe mais pobre. A camada da população mundial que ganha menos de US$ 1 por dia vai aumentar de 480 milhões de pessoas para 520 milhões entre o início de 2008 e o fim de 2009. Entre os que ganha até US$ 2, o aumento de pessoas afetadas será de 100 milhões. No total, 1,4 bilhão de pessoas estarão abaixo dessa linha de renda.