Dois comentaristas tão diferentes como André Singer e Elio Gaspari perceberam o mesmo acorde na sinfonia. Ambos mencionaram o papel desempenhado pela radicalização das posições, partidárias e sindicais, sobre a terceirização e os efeitos desta na luta unitária contra o pacote do ajuste econômico.
A terceirização foi o rabo que balançou cachorro.
Embora as repercussões do 1º de maio tenham enfatizado exageradamente a divisão (sobretudo a divisão político-partidária), o cronograma de votações no Congresso Nacional faz com que se recriem, novamente, as condições unitárias, contrárias à MP 665, a ser votada na terça-feira na Câmara. Mesmo sobre a terceirização (motivo da discórdia), as novas discussões no Senado – que se anunciam sem a pressa com que foram conduzidas na Câmara, pelo seu presidente – podem reaproximar as forças sindicais na busca da melhoria do projeto de lei que regulamenta o assunto.
Ao exigir celeridade nas votações na Câmara, o presidente Eduardo Cunha e seus seguidores, pisaram no terceiro trilho do metrô, aquele que eletrocuta quem o pisa, ou seja, a sensibilidade dos trabalhadores a tudo aquilo que fere seus direitos que vêm se consolidando no Brasil desde 1930 e que já estava sendo costeada pelo anúncio do pacote de ajuste econômico.
Passada a votação das medidas provisórias em que será testada sua capacidade de ação unitária, o movimento sindical deveria persistir em encontrar formas para melhorar o projeto de lei que regulamenta a terceirização, calibrando com precisão aquilo que é correto, comum e aceitável nas diferentes posições que foram explicitadas nas refregas que precederam o 1º de maio, carregadas de simbolismo.
Duas coisas unânimes são certas para o movimento sindical dos trabalhadores: ninguém defende a terceirização e todos exigem a sua regulamentação. São bases firmes para a possibilidade de entendimento e ação comum.
João Guilherme
Consultor Sindical