Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

O presidente Lula precisa fazer política

João Guilherme Vargas Netto – consultor de entidades sindicais de trabalhadores

Vou meter minha colher em panela que não é do meu cozido.

Tem causado grande comoção e provocado uma penca de opiniões a publicação pelo DataFolha de uma pesquisa em que, de maneira abrupta e alargada, a aprovação de Lula desaba e a desaprovação cresce, superando a primeira e abrindo entre os que acham “ruim/péssimo” e os que acham “ótimo/bom” um fosso de 17 pontos.

Mas, ao longo de pesquisas semelhantes e mesmo nesta, a linha dos que acham o governo “regular” mantém-se quase horizontal, praticamente paralela aos que “não sabem”, o que chamou minha atenção. As mudanças se deram nos extremos.

Defendo a tese de que tal resultado é decorrente, no fundamental, da ação política da oposição bolsonarista – permanente, aguerrida, oportunista e demagógica, como no ataque à trapalhada do Pix – que enfrenta dificuldades e se divide, mas consegue em curto período sensibilizar (para cima) seus adeptos e desorientar (para baixo) os apoiadores do presidente, a começar dos mais fiéis.

Foi esta polarização a causa dos resultados extremos (mesmo levando em conta outros fatores, por exemplo, o preço da comida que, no entanto, não afetou os “regulares”).

E, do ponto de vista do governo, acuso a falta de ação política coerente, efetiva, oportuna e veraz como a grande deficiência a ser sanada, obviamente com mais ação política (sem desprezar a gestão e a comunicação).

Assim, sugiro que o presidente efetive imediatamente uma reforma ministerial reforçando o ministério com melhores articuladores políticos, bem como suprima os eventos festivos de Brasília e os substitua por reuniões políticas com dirigentes partidários, deputados e senadores, com formadores de opinião, com religiosos e representantes da sociedade.

Em particular recomendo fortemente ao presidente que se aproxime do movimento sindical dos trabalhadores, das direções sindicais de diversas categorias, refazendo os laços de mútua aproximação.

Minha preocupação, nesse assunto, é a de que a aproximação política do presidente com o movimento sindical impeça que aconteça aqui, com o bolsonarismo, aquilo que Trump conseguiu nos Estados Unidos: dividir as direções e ter apoio entre os trabalhadores formais.