Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Nova direção tenta mudar a GM e evitar interferência política

 


John D. Stoll and Kevin Helliker, The Wall Street Journal


O conselho de administração da nova General Motors Co. reúne-se pela primeira vez hoje, colocando sob os holofotes Edward E. Whitacre Jr., o ex-executivo das telecomunicações com que o governo dos Estados Unidos conta para fazer com que os US$ 50 bilhões de socorro dado com recursos do contribuinte gerem retorno.

 

Como presidente do conselho de uma empresa que tem agora o governo dos EUA como sócio majoritário, Whitacre terá de se engajar numa batalha pouco comum, de duas frentes: ao mesmo tempo em que trabalhará com o presidente executivo da GM, Friederick “Fritz” Henderson, para mudar uma empresa que passou 40 dias em recuperação judicial, o texano também terá que se defender da interferência política de Washington.

 

“Whitacre precisa dar cobertura a Fritz para que (Henderson) não perca todo o seu tempo lidando com questões que não têm nada a ver com lucro”, disse Bill George, ex-presidente da Medtronic Inc. que foi convidado para a presidência do conselho da GM mas recusou, dizendo estar ocupado demais.

 

O encontro de dois dias será o primeiro para Whitacre e outros membros do conselho nomeados desde que a GM saiu da concordata, em 10 de julho.

 

Como parte do ritual, os 13 membros do conselho farão uma visita ao centro técnico da GM em Warren, no Estado de Michigan, e dirigirão alguns dos atuais e futuros modelos da GM nas pistas de prova das empresa em Milford. Eles também discutirão as questões mais críticas enfrentadas pela montadora, como a venda da subsidiária Opel na Europa, a forma de estancar a perda de fatia de mercado nos EUA e que direção trará a GM de volta ao lucro.

 

Whitacre, de 67 anos, se negou a conceder entrevista para esta reportagem. Ele transformou a telefônica Southwestern Bell em uma potência que acabou comprando sua antiga dona, a AT&T Inc., e se aposentou como presidente desta em 2007.

 

Ele chega à GM sem experiência no setor automotivo, mas há mais de um mês vem trabalhando para se inteirar dos desafios internos da empresa e de suas futuras relações com o governo.

 

Na GM, ele tem se reunido com Henderson três ou quatro vezes por semana desde que aceitou a presidência do conselho, dizem pessoas a par da situação.

 

Whitacre programou dez dias de férias no começo de julho, mas disse a assessores que conseguiu descansar apenas por três dias em razão das demandas do novo trabalho, segundo pessoas informadas sobre o tema. Na semana passada, Henderson também viajou para a casa de Whitacre em San Antonio, no Texas, disseram as pessoas.

 

Numa sinal de que pretende continuar com a mão na massa, Whitacre disse a assessores que quer passar pelo menos um dia da semana em Detroit, onde fica a sede da GM, e alugar um apartamento nas proximidades, de acordo com uma pessoa a par dos planos do executivo.

 

“Ele é impaciente, e isso é uma coisa boa”, disse Robert Lutz, diretor de marketing da GM, que afirma ter se encontrado com Whitacre três vezes e acompanhado Henderson na viagem a San Antonio.

 

Segundo Lutz, Whitacre acredita que a GM tem automóveis e camionetes bons o bastante para concorrer, mas precisa mudar a percepção do consumidor em relação à empresa. “Ele acredita totalmente no poder de uma propaganda bem feita”, disse Lutz.

 

Em algum momento Whitacre e o novo conselho também terão que decidir se Henderson, um veterano da GM que estava na diretoria quando a montadora teve dezenas de bilhões em prejuízos e ficou sem dinheiro, é a pessoa certa para comandar a empresa no longo prazo.

 

Numa entrevista em 10 de julho, Whitacre disse que Henderson será julgado “pelo montante de dinheiro que gerar”.

 

O novo presidente do conselho fará tudo isso ao mesmo tempo em que tentará manter o governo dos EUA a uma certa distância. Quando foi entrevistado para o cargo, ele disse que só assumiria se a força-tarefa da Casa Branca para o setor automotivo deixasse de existir, disseram pessoas a par da questão.

 

A preocupação dele era a de que o grupo – que conduziu a concordata da GM e teve papel importante na elaboração do plano de reestruturação e aprovou a escolha de Whitacre para a presidência do conselho – pudesse se transformar num segundo conselho de administração.

 

“Ed queria ser claro quanto ao papel que o governo teria na empresa”, disse Steven Rattner, que dirigiu a força-tarefa até pedir demissão do cargo no fim de julho. Dois outros membros da equipe que trabalharam de perto com a GM, Henry Wilson e Matthew Feldman, também devem sair até meados deste mês, segundo pessoas a par da questão.

 

Embora reduzida, a força-tarefa continuará a funcionar, sob a direção de Ron Bloom, um ex-banqueiro de investimento e consultor do sindicato de metalúrgicos United Steelworkers.

 

Em entrevista ao Wall Street Journal, Bloom disse que o trabalho dele é “monitorar” o investimento do governo. “Nós do governo precisamos dar a essas empresas o máximo de oportunidades para que tenham sucesso”, acrescentou. “A maneira de fazer isso é deixar que elas toquem seus negócios.”

 

A GM pretende vender ações ao mercado em 2010 e Bloom alertou que qualquer interferência de Washington pode tornar os papéis pouco atraentes para os investidores.

 

Outro grupo com o qual Whitacre terá de trabalhar é o sindicato de metalúrgicos United Auto Workers e seu presidente, Ron Gettenfinger. O fundo sindical que presta serviços de saúde aos trabalhadores aposentados é agora o segundo maior acionista da GM, com uma participação de 17,5%, depois do governo dos EUA, que detém 60%.

 

Na SBC Communications, que depois se tornou AT&T, Whitacre cultivou relações cordiais com os trabalhadores sindicalizados, ao ponto de alguns dos líderes se sentirem confortáveis para ligar para a casa do executivo.

 

James Kobler, um instalador de cabos de Kansas, ligou uma vez para a casa de Whitacre em Saint Louis para relatar um problema, que o executivo imediatamente reportou ao encarregado da empresa no Estado. “Eu interrompi a faxina que ele fazia na garagem, e ele não poderia ter sido mais atencioso ao anotar minha reclamação e me atender”, disse Kobler.

 

(Colaborou Sharon Terlep)