Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Nos EUA, brasileiros já perdem emprego e mulheres vão à luta

Mulheres buscam serviços extra para complementar a renda familiar que caiu bruscamente nos últimos meses

Nilza H. Barros, NOVA YORK

Diante da instabilidade do cenário econômico nos EUA, imigrantes brasileiros estão se vendo enrascados para manter o padrão de vida. Com a falta de emprego na construção civil, é cada vez mais comum as mulheres arcarem com as despesas do final do mês.

Assim acontece com Rejane Cruz, natural de Betim, Minas Gerais, há 12 anos nos EUA, casada com Ericksson Cruz e mãe de dois filhos. Desempregado há quatro meses, Ericksson vive de serviços temporários que consegue em empresas da cidade de Hillside, no estado americano de Nova Jersey.

Mas nem sempre foi assim. Em 2003, os dois abriram uma companhia de pinturas e trabalharam juntos durante cinco anos. No final do ano passado, ela abriu uma companhia de limpeza para ajudar nas despesas da casa, depois que os trabalhos de pintura diminuíram.

Rejane reclama que o padrão de vida caiu muito. “Tivemos que nos desfazer de nossa casa porque a prestação e os impostos subiram muito”, conta. “Meu marido fazia em média US$ 6 mil por semana. Hoje, quando ele chega com US$ 300, é muito. Sempre pagamos muito impostos, não acho justa esta situação. Estamos pagandopelos erros de outras pessoas.”

Rejane relata que antes da crise, era o marido quem sustentava a casa. No início do inverno, os trabalhos sempre diminuíam e era normal ficar sem o que fazer por três ou quatro semanas. Mas no final de 2007, as coisas começaram a apertar e ela resolveu abrir uma companhia de limpeza para colaborar.

Hoje é ela quem paga todas as contas, como aluguel, seguro de dois automóveis, seguro das duas empresas, alimentação, entre outras. Um total de quase US$ 2,5 mil por mês, sem contar os imprevistos. “Agora até a alimentação da minha filha na escola, que antes era gratuita, tenho que desembolsar, pois o governo não está contribuindo.” Os hábitos também mudaram. ” Eu não sabia o que eram contas. Freqüentava salão de beleza, comprava roupas e coisas para a casa. Hoje o que faço é pagar dívidas.”

Quando começou com as faxinas, Rejane fazia limpeza de quatro casas por dia, que lhe rendiam US$5,5 mil no final do mês. Mas desde o início do ano seus rendimentos diminuíram quase pela metade: os patrões também estão passando pelas mesmas dificuldades. “São americanos de classe média alta que também estão perdendo suas casas, também deixaram de viajar e cortaram extravagâncias para pagar as contas dos cartões de crédito.”

Ela conta que uma de suas clientes é casada com um funcionário de uma seguradora que faliu. “Hoje ela paga as contas da casa como eu e a faxina semanal passou a ser quinzenal. E meus clientes quinzenais me dispensaram até a situação melhorar.” Mas apesar da mudança brusca no padrão de vida, voltar para o Brasil é uma hipótese remota para o casal, por conta da educação dos filhos Cauã e Virgínia.

A babá Luciana Certeza, natural de São Paulo, há 12 anos nos EUA e mãe de um filho de 2 anos, também passa por dificuldades. O marido Raimundo Brito, nascido em Minas Gerais, perdeu o emprego de entregador em uma indústria farmacêutica no último mês, e agora engraxa sapatos pela cidade de Kearny, em Nova Jersey.

Contratada por duas famílias, Luciana trabalha 30 horas por semana. Ela conta que, com o marido, chegavam a uma renda familiar de aproximadamente US$ 6 mil mensais, mas esse valor caiu pela metade depois que ele perdeu o emprego. “Colocamos nossa casa à venda porque não conseguimos pagar as prestações. Nos últimos anos, não trocamos de carro, não compramos roupas e deixamos de viajar. Só não cortei mesmo a alimentação. Mas antes, o que eu queria, trabalhava e conseguia rápido”. A babá não pensa em voltar ao Brasil. “Nunca investimos em nada por lá. Tudo o que conseguimos foi comprar nossa casa aqui. Não compensaria voltar sem nada”.