Por Antonio Carlos Quinto – acquinto@usp.br
Publicado em 18/outubro/2011
Processo desenvolvido em estudo conjunto da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, Unesp e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) possibilitou a transformação de resíduos obtidos na limpeza de chapas metálicas laminadas em pigmentos que podem ser usados na fabricação de tintas imobiliárias. A iniciativa, inédita no País, pode resultar em pigmentos mais baratos e o melhor aproveitamento do resíduo siderúrgico.
O professor Fernando Vernilli, do Departamento de Engenharia de Materiais da EEL, explica que os pigmentos são obtidos a partir do processo de limpeza das chapas de aço produzidas na CSN. “Durante a laminação a quente, para se obter as chapas de aço, o material fica recoberto de óxidos de ferro. Após a laminação, as chapas são submetidas a uma solução aquosa à base de ácido clorídrico para, posteriormente, receberem uma camada de zinco”, descreve o docente.
Pigmentos são obtidos por um processo hidrometalúrgicoO processo de limpeza é feito em tanques de decapagem, na própria CSN. Depois do uso, o restante da solução aquosa é reutilizado mais vezes, até que tenha de ser submetido a um processo de recuperação. “Quando esta solução torna-se saturada e impossibilitada de reuso, no entanto a planta de recuperação de ácido da CSN não possui capacidade para recuperar todo o volume de resíduo gerado, sendo obrigado por questões ambientais a enviar o resíduo à sua unidade localizada no estado do Paraná”, conta Vernilli, lembrando que a sede da empresa fica em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. O que resulta deste material após processamento, é a chamada “granalha de ferro”, usada em jateamento para limpeza de materiais e como contrapeso em algumas estruturas, como pontes, etc. “O que chamamos granalha de ferro é semelhante a uma areia grossa”, descreve o professor. Ele conta que a “granalha” de ferro é comercializada por um preço em torno de R$ 0,20 o quilo (kg).
Economia
Com a tecnologia desenvolvida, os pesquisadores obtiveram os pigmentos por um processo de tratamento químico chamado hidrometalúrgico. “Esse tipo de tratamento não demanda energia elétrica. Ele é feito em função de parâmetros como a temperatura e concentrações das soluções utilizadas, bem como o pH e tempo de reação”, descreve o pesquisador. Ele lembra ainda que o processo hidrometalúrgico gera um cloreto de amônio que poderá ser utilizado na composição de fertilizantes. Para tanto, novos estudos deverão ser realizados.
Os testes na produção dos pigmentos tiveram início no ano passado, na própria CSN. O produto foi avaliado numa empresa de tintas imobiliárias e a qualidade da tinta foi igual às encontradas no mercado. “No Brasil existe somente uma indústria que comercializa pigmentos destinados à fabricação de tintas imobiliárias”, cita o professor. Os pigmentos são produzidos a partir de sucatas de aço. Contudo, como explica Vernilli, ao adquirir a sucata, a empresa fabricante da tinta imobiliária não tem a garantia de qualidade do produto. “Muitos matérias podem vir junto com esta sucata. No caso do material da CSN, há a garantia de pureza do material, o que implica em um pigmento de melhor qualidade”, lembra o pesquisador.
Na CSN foram obtidos pigmentos das três cores, como acontece no mercado: amarelo, vermelho e preto. “Qualquer outra cor entre estas três também pode ser obtida”, garante Vernilli. Ele informa que os pigmentos são comercializados no mercado a R$3,00 por quilo (kg) o vermelho; R$ 6,00/kg o amarelo, e entre R$ 3,00/kg e R$6,00/kg, o de cor preta. O professor informa ainda que a CSN já está em busca de indústrias que estejam interessadas em investir numa parceria para a produção dos pigmentos. “Certamente, poderão ser oferecidas ao mercado opções mais baratas de pigmentos. Além disso, representará uma economia à própria CSN, já que o resíduo excedente não precisará mais ser transportado ao Paraná”, avalia. Este projeto recebeu, em 2010, o prêmio de melhor trabalho durante o Congresso da Associação Brasileira de Metalurgia (ABM).