Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Metalúrgicos de Anápolis/GO

Metalúrgicos fazem mobilização contra racismo em Anápolis

O Sindicato dos Metalúrgicos de Anápolis com o apoio geral dos trabalhadores promoveu um manifesto de meia hora contra o racismo, contra o preconceito, contra a discriminação racial e contra a exclusão social na porta da empresa Gravia, em Anápolis. O protesto, que ocorreu na manhã de quarta-feira, dia 30 de abril, contou com a participação da empresa, que foi solícita e atendeu ao pedido dos trabalhadores para realizarem o evento.

Os Metalúrgicos de Anápolis trabalham, sempre, para extirpar do ambiente de trabalho estas abominações através da conscientização, da inclusão social por geração de empregos e de cursos de formação profissional para todos. O fator de exclusão econômica das populações afrodescendentes, como é o caso do Brasil, é uma questão mundial. Mas a luta para que a igualdade de condições e de oportunidades seja para todos tem de ser constante por parte das entidades sindicais. Esta é a forma como os sindicatos e federações laborais e centrais sindicais podem e devem agir para que haja a evolução dos direitos humanos e da cidadania. As entidades devem assumir seu papel, também, como organismos de defesa dos direitos civis que proíbem o sectarismo de classes e de etnias.

Os Metalúrgicos de Anápolis entendem que a característica racista velada da cultura brasileira é um resquício da injusta formação da estrutura social e econômica nacional. As populações africanas iniciais eram trazidas para exploração escrava de sua mão de obra o que constituiu um dos maiores holocaustos da história. A riqueza produzida através da escravização do povo africano no Brasil e Américas construiu grande parte das riquezas de países europeus como Portugal, Espanha, Inglaterra e França e estes países também teriam dívidas por crimes contra a humanidade já que foram beneficiados com as remessas de ouro e produtos explorados pela mão de obra escrava do povo africano.

Com a abolição da escravatura, este povo, depois de ser retirado brutalmente de sua terra natal e ter sua força de trabalho explorada em regime de cativeiro, ainda se viu largado à própria sorte e ao destino cruel em um país que nunca reconheceu, de verdade, sua cidadania ou agradeceu sua contribuição de sangue e suor à formação do estado brasileiro. A dívida do país com as gerações afrodescendentes, se contabilizada, não poderia ser paga nem com todo o PIB nacional, e ao invés disso, nem sua contribuição cultural e genética na miscigenação é valorizada. Injustiça racial e social é o que receberam em troca do sacrifício de formar uma nação.

Em menor ou maior grau, quase todos os brasileiros possuem uma parcela de origem negra em seu sangue e nem o reconhecimento honroso deste povo foi valorizado. A depreciação cultural dos excluídos e pobres se permeou, na história, ao fato da maioria destes excluídos e pobres ser, também, de origem negra pela exploração que passavam das lavouras para as senzalas, e depois, fora delas, na miséria e no desprezo.

Consertando a etimologia, o auto-racismo, já que somos nós brasileiros, povo majoritariamente afrodescendente, seria o termo mais adequado. A cultura dos “senhores” e da “casa-grande” ainda segue como a herança mais perversa a ser batida. Não assumimos nossa formação da senzala e o país não assume sua dívida social com a nossa afrodescendência. No Brasil diz-se: “Não somos negros, somos morenos. Não somos pobres, somos classe-média. Não somos desempregados ou subempregados, somos autônomos.” E a situação velada segue seu curso. Precisamos abrir nossa caixa “preta” (preta sim, por que não?) e fazer justiça. O Brasil precisa disso. Precisa se apaziguar dando justiça e tentando minimizar a dívida que tem com seu povo. Fomos da senzala. Fomos e ainda somos, explorados. Somos negros, independente da cor da pele. Orgulhamo-nos de formar uma nação sem ódio racial e étnico e de ser um povo alegre e de bem com a vida. Mas precisamos pagar a dívida com uma etnia que formou nosso sangue e nossa pátria. Devemos promover a glória de uma origem e o orgulho de pertencermos à descendência de pessoas que foram martirizadas, mas nunca se entregaram. De guerreiros e de guerreiras que foram brutalizados e nunca perderam sua alegria. De homens e mulheres que tiveram esquecidos seu sacrifício de vida.

Nossos ancestrais deram seu sangue e suas vidas e sua lembrança deve ser gloriosa.

As demonstrações de racismo ligadas às celebridades brasileiras e a resposta corporativa e orquestrada comercialmente que demos nas redes sociais devem nos alertar para a nossa hipocrisia. “Nós podemos ser racistas contra nós mesmos. O outro, o estrangeiro, não pode?” Esta leitura dos fatos nos leva a pensar em como somos injustos quando nos referimos as nossas feridas internas. Seríamos uma pátria sem máculas raciais e sociais e então o estrangeiro estaria ferindo nossa honra e fazendo aquilo que nós mesmos não fazemos? Cremos que não. Melhor seria, e mais útil, revermos e melhorarmos onde temos mais condições e onde mais nos afeta: nós mesmos e nossa casa. A cada vez que deixamos passar aos nossos olhos o suplício dos marginalizados que são “os invisíveis” da sociedade ignorando sua situação de abandono social e sua dificuldade de sobrevivência, atiramos uma banana, não no campo onde jogam os abastados e supervalorizados jogadores de futebol que têm ferramentas e recompensas para sublimar os preconceitos, mas atiramos bananas no “campinho de terra da nossa rua” onde jogam nossos filhos, também, afrodescendentes. Precisamos formar uma nação não de hipócritas, mas de corajosos que enfrentam seus temores. Não somos todos macacos. Somos sim, com orgulho, todos afrodescendentes.

Façamos nossa parte. Devemos dar o exemplo e valorizar a nós mesmos, trabalhadores que somos. Ter orgulho de nós mesmos é lutar por educação de qualidade, pois seremos menos racistas. Ter paz é lutar por justiça social, pois seremos menos ingratos com nossas origens. Aqui, no coração do Brasil, na área de maior desenvolvimento econômico do centro-oeste, também existem injustiças sociais. Mas os Metalúrgicos de Anápolis estarão sempre nessa luta dando a sua parcela de contribuição à causa.

Leandro Rodrigues da Cunha
Assessor de Comunicação – Metalúrgicos de Anápolis