Motivo é a queda nas vendas decorrente da crise global
Paulo Justus, Simone Menocchi, Tatiana Fávaro, Liège Albuquerque e Evandro Fadel
Metalúrgicos de todo o País tiveram as férias coletivas adiantadas em decorrência da crise financeira internacional. Ontem, foi o primeiro dia de férias de 8,6 mil trabalhadores da General Motors do Brasil em três unidades da montadora: São Caetano do Sul, Mogi das Cruzes e São José dos Campos. Em Manaus, 7 mil trabalhadores de várias fábricas ficaram em casa, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas.
Na sexta-feira, os trabalhadores assistiram a um vídeo gravado pelo presidente da General Motors do Brasil e Mercosul, Jaime Ardila. No material, Ardila explicou os motivos das férias coletivas. “Por causa da queda das exportações que estamos tendo pela situação de alguns de nossos clientes no México, África do Sul, Venezuela e Argentina seria importante para nós reduzirmos razoavelmente a produção. Fomos, como vocês sabem, os primeiros a tomar a decisão.”
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Aparecido Inácio da Silva, diz que o clima é de apreensão. “Não resta dúvida que isso é altamente desconfortável e ficamos preocupados, mas consideramos que a GM saiu na dianteira e se preparou para uma situação emergencial”, afirma. Segundo ele, se essa iniciativa não fosse tomada agora, medidas mais drásticas poderiam ser tomadas no futuro.
Entre os metalúrgicos de São Caetano do Sul, a preocupação maior fica com os 1.500 novos trabalhadores que ingressaram no terceiro turno da montadora, aberto em maio. Eles têm contrato de um ano com possibilidade de renovação. “Estou mais preocupado em não continuar na empresa depois do contrato”, diz um metalúrgico que não quis se identificar.
Zenilton Rocha Pereira, de 39 anos, não teme o futuro. O metalúrgico trabalha há três anos na unidade da GM em São Caetano do Sul e já se preparou para aproveitar as férias com a mulher e a filha. Reservou um quarto na Colônia de Férias do sindicato, em Caraguatatuba (SP). “Estou tranqüilo, as férias que recebemos são um reflexo da crise americana, que não deve chegar ao Brasil.” Pereira diz que a mensagem do presidente da empresa o acalmou.
Os metalúrgicos da GM de São José dos Campos iniciaram as férias coletivas sem protestos. Na semana passada, eles paralisaram a produção de veículos e motores nas unidades da S-10, Powertrain e MVA, motivados pelo anúncio de férias coletivas.
Em Manaus, a previsão é que mais de 10 mil metalúrgicos entrem em férias coletivas até o fim do mês. Só o grupo Moto Honda, um dos maiores do pólo industrial, adiantou férias coletivas para 5 mil trabalhadores, da Moto Honda, Honda Lock e Honda Componentes. “Essas férias são além das coletivas de fim de ano, que começam próximo ao Natal”, explica o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, João Brandão. Ele sugeriu aos empresários esticar uma suspensão dos contratos de trabalho por três meses, por causa da crise. De acordo com o sindicato, 13 mil trabalhadores foram demitidos das empresas da Zona Franca de Manaus no ano passado. Até setembro, foram 12 mil.
Fábricas de componentes de alta tecnologia da região de Campinas também estudam dar férias coletivas antecipadas a seus funcionários. Segundo o empresário e primeiro vice-diretor da unidade do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo em Campinas, José Nunes Filho, empresas que trabalham com componentes com custo influenciado diretamente pelo dólar, sobretudo eletroeletrônicos, optam ou pretendem optar pelas férias coletivas antecipadas em vez de aumentar os preços de seus produtos.
Em Curitiba, a Volkswagen anunciou ontem que vai conceder férias coletivas a 900 trabalhadores que fazem o terceiro turno na unidade de São José dos Pinhais, na região metropolitana, como uma forma de “adequação do processo produtivo”. Os trabalhadores ficarão em casa durante dez dias, entre 3 e 13 de novembro. A empresa monta na unidade paranaense 810 veículos por dia nos três turnos.