Valor Econômico
João Villaverde, de São Paulo
Os metalúrgicos estão próximos das datas-base e as reivindicações salariais chegam a ultrapassar a inflação em mais de 12%. O ritmo mais acelerado da economia e os números recordes de produção e venda de veículos e peças no começo do ano dão aos sindicalistas a justificativa para pedir mais. A demanda por salários maiores num momento em que a economia cresce a um ritmo seis vezes maior que em igual período do ano passado conseguiu até unir rivais históricos do movimento sindical.
Dono do maior reajuste salarial do ano passado, o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos reivindica este ano 17,45% de aumento. Em 2009, pediu 14,65% e conquistou 8,3%. Segundo Vivaldo Moreira, presidente da entidade, “a situação está ainda mais favorável para uma vitória”.
Para arregimentar mais forças, o sindicato, cujos dirigentes são ligados a partidos como P-SOL e PSTU, deixou de lado as disputas políticas e ideológicas. Na semana passada, promoveu reunião com membros da Força Sindical e CGTB, centrais que abocanham fatias do imposto sindical e que apoiam o governo. Juntos, selaram acordo de campanha salarial unificada. Os sindicatos de São Caetano do Sul e Tatuí, filiados à Força Sindical, e de São Carlos, da CGTB, tambem vão pedir 17,45% de aumento, assim como os metalúrgicos de Campinas, Limeira e Santos.
“Uma união como essa é inédita no movimento sindical. A questão que colocamos é aumento salarial num ano de crescimento extraordinário do país. Não há espaço para disputas políticas quando falamos de dinheiro no bolso do trabalhador”, diz Moreira.
Os 131 mil metalúrgicos de Curitiba e São José dos Pinhais (PR), que garantiram reajuste semelhante ao de São José dos Campos no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2%, querem mais em 2010. Segundo Jamil D´Ávila, vice-presidente do sindicato, o reajuste real negociado está entre 5% e 6%.
“Não aceitaremos menos que isso. No ano passado, o setor estava muito aquecido, graças aos incentivos fiscais, mas o país como um todo ainda estava fraco. Agora, não só a indústria automobilística continua forte, como a economia está toda acelerada. Não tem desculpa”, diz D´Ávila.
O sindicato se baseia em levantamento realizado pela subseção de Curitiba do Dieese, que aponta resultados mais expressivos da indústria automobilística no Paraná em relação ao resto do país. O estudo mostra que, enquanto a produção total de veículos aumentou 19,4% no primeiro semestre deste ano sobre igual período do ano passado, a produção das três montadoras no Paraná (Volvo, Renault e Volkswagen) foi 25,3% maior.
Na Volvo, montadora que fabrica caminhões e ônibus no Paraná, a produção no primeiro semestre foi 111,8% maior que entre janeiro e junho do ano passado – quase o dobro da produção de veículos comerciais pesados no país, que, na mesma comparação, cresceu 61%, segundo o Dieese. Mesmo que as montadoras não tenham força para manter esse ritmo ao longo do ano, diz Cid Cordeiro, supervisor do Dieese em Curitiba, a produção em 2010 terá aumento significativo na comparação com 2009.
Com 12 sindicatos metalúrgicos filiados em São Paulo, a Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT) apresenta pauta menos ambiciosa, mas Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da entidade, afirma que “o número que colocamos nas mesas de negociação com os patrões é bem maior que o conquistado no ano passado”. Em 2009, os quase 250 mil metalúrgicos representados pela FEM-CUT em São Paulo obtiveram aumento de 2% além da inflação.
O acordo no ano passado, liderado pelos metalúrgicos do ABC – que representam 100 mil trabalhadores – não agradou o sindicato dos metalúrgicos de Taubaté, com base 80% menor. Na oportunidade, o sindicato de Taubaté negociou, além do aumento de 2%, um abono de R$ 2,8 mil, depois estendido aos outros 11 sindicatos da FEM-CUT.