Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

João Guilherme

Me engana que eu não gosto

Por João Guilherme Vargas Netto

Não me sinto confortável ao criticar decisões coletivas das direções sindicais. E, no entanto, é preciso fazê-lo para alertar o movimento dos trabalhadores sobre os riscos de uma orientação errada.

Nove centrais sindicais representadas quase individualmente em uma reunião antecipada e apressada convocaram uma greve geral contra a deforma previdenciária. Seria correto se houvesse já uma preparação efetiva das bases sindicais – e mais que isso, uma exigência – para tal iniciativa.

Como as coisas se apresentam a determinação aventureira produzirá apenas muito barulho para nada ou calor sem luz, prejudicando na verdade todos aqueles que de maneira consequente já vinham fazendo o que deve ser feito: a resistência à aplicação da lei trabalhista celerada nas negociações salariais em curso e as manifestações pontuais de resistência à deforma previdenciária e o homem a homem com os parlamentares.

Com este casamento do porco com o cachorro, isto é, com a junção de um oportunismo condescendente com um radicalismo de fachada, o movimento pode ser levado neste fim de ano em que sofre fortes ataques coordenados dos adversários, a uma derrota desmoralizante, ou no máximo, a uma irrelevância preocupante.

Os verdadeiros amigos e apoiadores da luta sindical têm apontado as deficiências dessa convocatória e sua irresponsabilidade do tipo toma lá, dá cá.

O trio mentor da medida que conduziu ao seu bel prazer a reunião das centrais espera que a confusão instalada no Congresso Nacional o leve a adiar a votação da deforma, o que de um lado justificaria o efeito da pressão (pela preparação açodada da greve) e de outro justificaria a sua suspensão. Mas, e se não der certo?

Às grandes eloquências prejudicais continuo contrapondo o esforço unitário e agregatório da resistência pontual, organizando e mobilizando toda base e não submetendo o movimento a provas para as quais não se encontra preparado.

Não gosto – ninguém gosta – de ser enganado.

João Guilherme
consultor de entidades sindicais de trabalhadores