Presidente diz a sindicalistas que falará com as instituições públicas
Tânia Monteiro, Vera Rosa, Leonardo Goy e Isabel Sobral
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou ontem a dirigentes de centrais sindicais, com quem se encontrou no Palácio do Planalto, que vai se reunir amanhã com representantes de bancos públicos para pressionar por uma redução de juros e de spreads (diferença entre as taxas de captação e as taxas cobradas nos empréstimos) bancários.
A reclamação dos juros foi uma das palavras de ordem levadas pelos sindicalistas à reunião, convocada para discutir a crise e as demissões no setor privado. Os sindicalistas pediram uma postura mais flexível do Banco Central na administração da taxa básica, a Selic.
Lula disse que também gostaria que a Selic estivesse mais baixa, mas frisou que não pode interferir na autonomia do BC.
Os dirigentes das centrais também pediram ao presidente a ampliação das parcelas do seguro-desemprego, hoje limitadas a cinco. Lula remeteu o assunto ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que deve apresentar uma proposta na próxima semana. De acordo com um sindicalista, Lupi deve propor a combinação do seguro com uma política de requalificação profissional. Hoje, o governo tem autorização legal para ampliar o seguro para até sete parcelas. Os sindicatos queriam até 12 parcelas.
Os sindicalistas comemoraram, no entanto, a garantia dada por Lula de que, apesar da crise, vai manter a política de aumentos reais do salário mínimo. Com isso, o piso deverá aumentar dos atuais R$ 415 para R$ 465 em fevereiro, um reajuste de 5,7% acima da inflação acumulada. Lula informou também aos representantes das centrais que pretende convocar os 50 maiores investidores privados do País para saber dos seus planos de investimentos. “O presidente disse que o governo quer saber daqueles que estão suspendendo investimentos quais são os motivos e se estão ligados à crise”, disse o presidente da CUT, Arthur Henrique. Lula quer se reunir também com governadores para discutir a redução do ICMS.
Durante a reunião, o presidente disse, mais de uma vez, que a economia viverá um primeiro trimestre “muito delicado”. E informou ainda que o governo deve promover um programa de desonerações tributárias “seletivas” nos setores mais atingidos pela crise. Segundo o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, podem ser beneficiados os setores metalomecânico, máquinas, eletroeletrônico, construção civil, calçados e têxtil.
Lula ainda acenou com a possibilidade de adotar medidas para incentivar a negociação de carros usados, cuja paralisação tem dificultado a venda de veículos novos. Disse ainda que pretende lançar um programa para incentivar a troca de geladeiras e fogões usados por modelos novos e mais econômicos.
O presidente ouviu a reivindicação para que fossem exigidas “contrapartidas” das empresas beneficiadas por medidas do governo, mas não se comprometeu com elas. Ao comentar a crise global, Lula disse que “o problema é que cada dia surge um dado novo”. Afirmou ainda que as medidas adotadas pelos diferentes governos foram, na sua maioria, voltadas a socorrer os bancos, e são ainda tímidas em relação ao necessário. Comentou também que os problemas podem se agravar se o novo presidente americano, Barack Obama, não tomar medidas para estancar a crise. Além de Lupi, participaram da reunião os ministros chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do Planejamento, Paulo Bernardo, da Previdência Social, José Pimentel, e da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci.