Presidente diz que o Congresso precisa conhecer medidas que podem ser tomadas na turbulência; para ele, “Brasil não corre riscos”, mas não se pode vacilar
FHC diz que “não dá para fazer aumento de salários sem parar” e que espera que governo esteja pronto para enfrentar efeitos da crise
LILIAN CHRISTOFOLETTI – DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que, apesar de a crise financeira dos EUA ter chegado no Brasil como “uma pequena onda”, ele pretende levar a discussão para o Congresso. Disse estar otimista porque o país fez a “lição de casa” e agora tem reserva financeira suficiente para enfrentar “essas e outras [crises]”.
“Queremos que esse tema da crise seja levado para dentro do Congresso, para as pessoas perceberem que, embora o Brasil não corra nenhum risco, não podemos vacilar”, disse Lula após votar em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Primeiro, disse o presidente, será preciso garantir algumas votações importantes no Congresso. Lula citou a reforma tributária e o salário mínimo, que, segundo ele, serão votadas até dezembro. “Nós temos algumas coisas que o Brasil não pode deixar de dar conhecimento aos líderes, por exemplo, nós queremos que eles tomem conhecimento de algumas medidas que nós vamos tomar em função da própria crise americana. O Congresso vai voltar a funcionar e vai votar as coisas que tem para votar”, afirmou.
Demonstrando bom humor, disse que a crise americana, “que consumiu US$ 850 bilhões do povo americano para tapar os buracos dos banqueiros que faziam agiotagem com dinheiro público”, não vai atingir o Brasil. Um exemplo citado foi a construção do trem-bala Rio-São Paulo, que seria licitado até março do ano que vem.
“Não haverá nenhuma mudança nas bases do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Só para você ter uma idéia, até um trem-bala vai ser licitado no mês de março para mostrar que sabemos lidar com a crise, porque nós nos precavemos, fizemos a lição de casa quando era preciso fazer e agora temos reservas para enfrentar essas e outras.”
Questionado se está preocupado com a queda das Bolsas, disse que é preciso paciência. “A Bolsa é isso, sobe-e-desce, sobe-e-desce. Paciência. Deus queira que ela suba no momento certo em que você for tirar o seu dinheiro da poupança.”
FHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse esperar que o governo esteja preparado para enfrentar os efeitos da crise. “A situação mudou no mundo, já tem efeitos no Brasil e vai continuar tendo.”
“O Lula às vezes faz muita bravata. Mas ele tem o sentido comum. Em geral, ele aprende rápido as coisas. Deve estar percebendo que não estamos numa ilha de prosperidade, num mar encapelado.”
Segundo FHC, “as ondas estão chegando, e é preciso que o governo deixe de ter uma atitude absenteísta e comece a entender que não dá para fazer aumento de salários sem parar, aumento de gastos sem parar, para que o próximo presidente pague. Lula se esquece de que, em 2003, por causa da eleição dele, a crise foi muito forte e eu tive a coragem de chamar o FMI e fazer com que ele, Lula, a contragosto, dissesse que precisava dos recursos. Foi o que o salvou em 2003”.