Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Lula defende negociação direta patrão-empregado

Presidente e ministra Dilma criticam reação de empresários à crise econômica

Lupi confirma que FGTS pode ser usado para compor salários, mas presidente e Fazenda se irritam com divulgação de notícia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou que existem estudos para criação do que chamou de “seguro-emprego”. Segundo ele, o mecanismo busca garantir os empregos por meio de mecanismos como a redução da jornada de trabalho.

“Mas não há possibilidade de haver redução de salário. Quando se diminui salário, há menos dinheiro em circulação. Isso agrava a situação da economia”, disse Lupi.

De acordo com o ministro, para não haver redução da renda do trabalhador, uma das saídas em estudo seria o uso de recursos do FGTS do trabalhador. Ele afirmou que outras alternativas estão em estudo e que o mecanismo envolverá trabalhadores, empresários e o governo, que poderá lançar mão de alguns incentivos.

O Ministério da Fazenda confirmou a informação de que os ministros Guido Mantega (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Lupi estiveram reunidos na noite de terça-feira. O conteúdo da reunião não foi informado, mas a Folha apurou que no encontro a proposta noticiada ontem foi discutida.

No entanto, há falta de consenso no governo sobre o assunto, e a divulgação das informações pela Folha irritou não só Lula, como Mantega. No final da manhã, após as declarações de Lupi, o presidente, que receberia a proposta ainda ontem, falou: “Fico chateado quando as pessoas começam a falar pela imprensa antes de me dizerem as coisas. Fico chateado porque pode não acontecer. Para as pessoas me convencerem de alguma coisa, precisam se dotar de argumentos, porque eu entendo muito de negociação”, afirmou Lula.

Ele disse que o melhor caminho para conter o desemprego é a negociação direta entre empresários e sindicatos e que o governo só entrará na negociação se for chamado e ambas as partes concordarem. E reclamou também dos empresários que estão pedindo a flexibilização das leis trabalhistas, que considerou “absurda”.

“Nas empresas, mesmo quando o emprego está crescendo, a rotatividade é altíssima. Por isso eu estranho alguns empresários dizerem que é preciso flexibilizar [as leis] porque é difícil mandar um trabalhador embora. É uma coisa absurda. No ano passado, a rotatividade foi de quase 15 milhões de trabalhadores. Um país que pode se dar ao luxo de contratar 16,5 milhões e dispensar 15 milhões não pode dizer que há dificuldade de dispensar.”

Já a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) criticou ontem as montadoras por terem reduzido a produção de automóveis com a piora na crise internacional. Segundo ela, a fila de espera por novos veículos mostra “uma errada de mão”.

“[A fila] deve dar a indicação de que talvez não fosse necessário tanta preocupação. É necessário tomar providências, mas tanta preocupação com a redução de veículos e tantas férias coletivas porque nós liquidamos estoques e agora vamos ter que providenciar carros”, disse ela, que justificou a atitude das empresas como reação de medo. Ela também cobrou os bancos pelos juros elevados.