Presidente afirma que corte de vagas formais no mês passado pode ter chegado a 600 mil, o pior resultado desde 1999
Durante entrevista, ele chegou a mencionar 800 mil dispensas, mas número foi corrigido por sua assessoria; ministério não confirma dado
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LADÁRIO (MS)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, durante entrevista em Ladário (428 km de Campo Grande), que o número de demissões em dezembro pode ter batido recorde. Ele citou a possibilidade de o número de cortes ter atingido 800 mil, mas sua assessoria, em seguida, corrigiu o dado e informou que a intenção era mencionar 600 mil demissões.
Esse número é quase o dobro da média histórica para o período, segundo estimativa apontada pelo próprio presidente.
“Tivemos uma anormalidade no mês de dezembro, e é importante lembrar que, na série histórica, dezembro é sempre anormal”, disse. “Ainda não temos os dados oficiais, mas nós vamos ter para o mês de dezembro, que na série histórica é por volta de 300 mil a 400 mil demissões, um pouco mais, talvez cheguemos a 800 mil demissões [número corrigido pela assessoria do Planalto].”
Com a confirmação da perda de aproximadamente 600 mil postos em dezembro, esse será o pior resultado desde 1999, quando foi adotada a atual metodologia para a pesquisa de emprego com registro em carteira. Embora dezembro seja um mês tradicionalmente marcado pela retração do mercado, os números flutuavam em torno de 300 mil vagas fechadas. Em 2007, o dado ficou negativo em 319.414 postos de trabalho.
Na gestão petista, o pior resultado havia sido verificado em 2004, quando o mercado perdeu 352.093 empregos com carteira assinada.
Desde o início da semana, o Ministério do Trabalho tem evitado confirmar o número de 600 mil demissões no mercado de trabalho formal em dezembro, apesar de a notícia ter surgido em entrevista concedida pelo próprio ministro Carlos Lupi no final de semana ao jornal “O Globo”.
Nos dias seguintes, Lupi e sua assessoria vinham dizendo que os números não estavam fechados, pois só seriam fornecidos integralmente pelas unidades estaduais do ministério ontem. Na terça, após reunião com Lula, Lupi chegou a antecipar a divulgação dos dados para a próxima segunda -a data inicial era o dia 21. Procurado ontem, o ministério não se manifestou.
Preocupado com a situação, o governo já adotou algumas medidas para estimular o crescimento econômico e deve anunciar outras até o final do mês (veja quadro ao lado).
Segundo Lula, é “importante” lembrar que o crescimento da geração de empregos no ano de 2008 foi “anormal para os padrões brasileiros”. “Chegamos até outubro a 2,1 milhões de trabalhadores contratados e vamos fechar o ano com um saldo positivo de quase 1,5 milhão de empregos novos criados nesses 12 meses.”
Questionado sobre o impasse nas negociações entre a Força Sindical e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que vinham discutindo acordo de flexibilização trabalhista, Lula disse que se reunirá na próxima segunda-feira com representantes das centrais sindicais. “Quero saber o que eles estão pensando, para saber o que o governo, centrais e sindicatos podem fazer conjuntamente para evitar que uma crise financeira nos EUA traga prejuízos ao povo brasileiro.”
Crise “sem precedentes”
Horas antes, em discurso na Bolívia, Lula avaliou a crise internacional como algo “sem precedentes na história da humanidade” e disse que a turbulência ameaça a produção e os empregos em todos os países.
Para ele, uma saída é o investimento em infraestrutura. “Logo deverão aparecer especialistas dizendo que devemos conter custos. Mas não podemos voltar à política da década de 80, quando Bolívia e Brasil ficaram mais pobres.”