Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Já era

Por João Franzin

“Na política, recomenda-se tratar, preferencialmente, de questões políticas. A introdução, histérica, de temas como aborto e ladroagem miúda de parentes de gestores públicos, rigorosamente, não ajuda a boa disputa eleitoral, além do que faz a campanha fugir do seu foco principal, que é a apresentação e o debate dos projetos reais de cada candidato.

A proposta de Dilma, por ser continuidade do governo Lula, não teria como apresentar grandes novidades. Mais lógico seria que elas viessem do candidato da oposição, José Serra. Mas não foi o que se viu. Serra, confiando na discutível força eleitoral da mídia, preferiu fazer uma campanha de denúncias, criando “factóides”. O esquema é mecanicamente simples: a imprensa denuncia e eu repercuto; eu denuncio e a imprensa repercute.

Ocorre que esse jogo é arriscado, uma vez que na política atual, como ela é, todo mundo tem esqueletos no armário, que um dia aparecem, gerando descontrole no sistema. A mídia, embora fazendo denúncias contra um só candidato, não teve como, por exemplo, omitir o caso “Paulo Preto”. A imprensa retardou, mas a Folha teve de acabar repercutindo o suposto aborto de Mônica Serra. E, agora, na reta final, ante a armadilha que o próprio jornal preparou em abril (afinal, nunca se sabe o dia de amanhã), a Folha vem denunciar a armação na licitação das obras do metrô.

Sabe-se que o moralista é sempre falso moralista, que o apóstolo fanático é o que negará três vezes e que o bispo furibundo, por exemplo, poderá amanhã ser descoberto morando em residência suntuosa, com elevador e tudo. Ou seja, um dia a casa cai. No caso de Serra, enrolado nas transas de “Paulo Preto”, no aborto escondido de sua senhora, na nomeação da filha do tal Paulo, em intimidades com a moça da bicicleta e, agora, na bandalha do metrô, a casa vem cair justo na reta final e no momento em que ele aparece muito mal nas pesquisas. 

Por isso, ou seja, por ter deturpado o debate, por ter feito do denuncismo lacerdista o centro de sua campanha, ter inventado realizações, ter forçado a natureza das coisas, sua derrota não será apenas derrota.

Será fim da linha, implosão de projeto político centrista legítimo, queima de todas as pontes, viagem só de ida. Já era”.

João Franzin é Jornalista da Agência Sindical