Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Indústria reage em fevereiro, mas ainda está nos níveis de 2004

PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

De janeiro para fevereiro, a indústria esboçou uma reação e cresceu 1,8% na taxa livre de influências sazonais, segundo o IBGE. Tal movimento, porém, foi insuficiente para inverter a tendência de queda na comparação com 2008: em fevereiro, a produção caiu 17% em relação a igual mês do ano passado.

Em janeiro, o setor fabril havia crescido 2,1% ante dezembro. Já na comparação com janeiro de 2008, a produção recuara 17,4% -desde 1991, quando começou a série da pesquisa do IBGE, não havia registro de quedas dessa magnitude.

Afetada pela crise, a indústria recuou pelo quarto mês consecutivo em fevereiro na comparação anual e, com isso, voltou ao patamar de produção de junho de 2004. No acumulado em 12 meses, a produção cedeu 1%, na primeira taxa negativa desde setembro de 2002.

Ou seja, a turbulência -que contraiu o consumo e os investimentos- abortou um longo período de expansão do setor, que até outubro cresceu sem interrupção por quase dois anos, diz Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.

Diante dos resultados de fevereiro -que ficaram pouco abaixo do piso inferior das projeções-, analistas esperam uma queda de até 3% no PIB do primeiro trimestre ante igual período de 2008. Comparado ao quarto trimestre, a estimativa é de uma retração de até 2%.

“Os dados da indústria não indicam uma recuperação, confirmam a tese de que o país já vive uma recessão e abrem espaço para um PIB negativo neste ano”, diz Sérgio Vale, da MB Associados, para quem a economia pode cair até 0,5%. Ele espera retração da indústria também de dois dígitos em março na comparação anual.

Já Sales, do IBGE, vê nos dados de março “uma pequena reação” e diz que a indústria “está começando a sair do fundo do poço” atingido em dezembro. “Alguns setores mostram recuperação da demanda interna, mas o ambiente econômico mudou muito em relação a 2008, o que gera resultados muito negativos na comparação com aquele período.”

Entre os segmentos em expansão, o destaque ficou com veículos, cuja produção cresceu 8,7%, sob efeito da redução do IPI. Em seguida, vieram outros produtos químicos (8%) e edição e impressão (10,3%).

O desempenho de veículos impulsionou o de bens duráveis, categoria que liderou a produção, com expansão de 10,5% de janeiro para fevereiro.

Na comparação com fevereiro de 2008, porém, a produção de veículos ainda cai com força: 29,8%. Foi o principal impacto negativo, ao lado de máquinas e equipamentos (-32,2%).

Segundo Sales, a crise prejudicou o desempenho de setores ligados ao crédito -os veículos só reagiram por conta da redução do IPI- e à confiança de empresários e consumidores.

Um exemplo é o recuo de máquinas e equipamentos. O desempenho puxou a queda de bens de capital -6,3% ante janeiro. Em relação a fevereiro de 2008, a queda foi de 24,4%, a maior desde março de 1996.

Para Leonardo Carvalho, economista do Ipea, a indústria viveu em fevereiro “ligeira recuperação”, baseada no desempenho da indústria automobilística. Ele ressalta, porém, a queda dos investimentos como um ponto negativo: “Os resultados, em geral, foram muito ruins na comparação com 2008 e em particular os de bens de capital, que caíram também em relação a janeiro, o que indica retração dos investimentos.”