Sondagem da FGV aponta que 45% das empresas querem elevar preços
Márcia De Chiara
Se depender da indústria de transformação, a inflação não deverá dar trégua neste trimestre. Pressionados por fortes aumentos de custos, 45% dos empresários do setor pretendem aumentar os preços dos seus produtos entre julho e setembro, revela a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria atingiu neste mês 85,8%, a maior marca da série histórica iniciada em abril de 1995.
A intenção de fazer reajustes é a maior registrada na média da indústria desde janeiro de 2003 e aumentou cinco pontos porcentuais em relação a abril deste ano (40%), apesar da confiança dos empresários ter recuado.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu em julho 120,8 pontos, com queda de 0,7% na comparação com junho deste ano e em 12 meses nos dados sem ajuste sazonal. Com ajuste, o ICI aumentou de 116,4 pontos em abril para 120,1 pontos em julho, mas ficou abaixo do resultado de outubro de 2007, de 122,5 pontos.
“A confiança está alta, mas vem perdendo fôlego”, afirma o coordenador técnico da sondagem, Jorge Ferreira Braga. Ele observa que a indústria mantém-se aquecida pela situação atual dos negócios, mas pondera que há uma desaceleração. “Há cautela quando se avalia os negócios em seis meses.”
Das 1.042 empresas consultadas entre 1º e 25 de julho, a maioria antes da terceira elevação da taxa básica de juros, 56,9% esperam melhora para os negócios em seis meses no índice ajustado sazonalmente. Em abril deste ano, o resultado foi semelhante, mas em julho de 2007 a proporção de empresas que esperavam uma melhora nos negócios era bem maior e chegou a 62,9%. “A alta da inflação e a elevação das taxas de juros devem diminuir o ritmo de crescimento industrial nos próximos meses”, diz Braga.
Enquanto o ajuste maior da produção não ocorre, as fábricas seguem em ritmo acelerado. O Nuci da indústria atingiu neste mês 85,8% e aumentou 0,3 ponto porcentual na comparação com abril.
NO PICO
O resultado de julho do uso da capacidade industrial chama a atenção porque é igual ao de outubro de 2007. Mas outubro é um mês em que normalmente ocorre o pico de produção em razão das festas de fim de ano e hoje a indústria já está nesse ritmo. Entre os setores pesquisados, a maior elevação no uso da capacidade instalada em julho na comparação com junho foi registrada nos bens de consumo, com alta de 8,2%, aponta a sondagem.
Em relação aos custos projetados para este trimestre, os dados também são preocupantes e reafirmam as pressões inflacionárias. Segundo a pesquisa, 48% das empresas informaram que terão aumentos de custos decorrentes de matérias-primas e serviços comprados no mercado interno entre julho e setembro. Em abril, esse índice estava em 34% e em julho de 2007, em 25%.
Em relação aos custos de itens importados, 37% das indústrias esperam alta, pressionada especialmente pelas commodities.
INDICADORES
85,8% é o nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação em julho
8,2% foi quanto aumentou o uso da capacidade da indústria de bens de consumo de junho para julho
48% das indústrias dizem que terão aumentos de custos de matérias-primas e serviços neste trimestre