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Deficit crescente e estagnação da produção interna desde 2008 evidenciam grave problema de competitividade no setor de manufaturados
O crescente deficit da balança comercial da indústria, de US$ 105 bilhões no ano passado, por si só seria motivo de alarme. Quando combinado com a estagnação da produção interna desde 2008, não deixa lugar para dúvidas acerca da existência de um grave problema de competitividade no setor.
A evidente deterioração dos últimos anos começa com a bonança externa –preços de matérias-primas em alta e abundância de capital estrangeiro. A consequente sobra de dólares contribuiu para valorizar o real e deslocar recursos produtivos para setores menos sujeitos à concorrência externa.
O problema se agrava a partir de 2008, com a resposta do governo à crise internacional. A opção foi por uma forte expansão de gastos e crédito públicos. Justificável a princípio como combate à recessão, a estratégia foi mantida desde então, pressionando em demasia a inflação e os custos internos.
A ausência de reformas para aumentar a produtividade acentuou a perda de espaço da indústria.
Para completar, houve, na última década, grande desenvolvimento de cadeias produtivas globais, tendo a China como protagonista. O Brasil ficou à margem desse processo, conduzido por empresas (industriais e de serviços associados) internacionalizadas.
O desafio é reverter essa tendência. Vive-se, sem dúvida, novo momento global. Países emergentes têm menos dólares à disposição, e os desenvolvidos se recuperam; o real se desvaloriza. Em tese, a produção nacional ganhará competitividade diante de importados.
Mas não basta contar com isso. É preciso atacar outras causas de fundo, entre elas a falta de inovação, os custos altos e o isolamento das empresas brasileiras.
São esses os principais obstáculos para o crescimento de longo prazo, cuja construção demanda competência gerencial do Estado e novas estratégias empresariais.
Não há exemplo de desenvolvimento nas últimas décadas que não tenha ocorrido por meio da integração na economia mundial. Tal objetivo passa por tarifas de comércio baixas, logística eficiente e modicidade tributária, medidas que dependem do governo.
A questão dos impostos assume lugar central. Depois de duas décadas de expansão, a carga tributária próxima a 37% do PIB, com alta complexidade nas regras, talvez seja o maior entrave para as empresas brasileiras competirem.
Cortar impostos –para todos, e não apenas para alguns setores– demanda controle de despesas, que precisariam crescer menos do que o PIB por alguns anos.
Assim seria mais fácil romper com o protecionismo que mantém o país na segunda linha do mundo.