Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Notícias

Indústria cresceu 0,7% em março


Apesar da pequena recuperação, resultado trimestral foi o pior em 18 anos, indicando que o País pode estar em recessão

 

Jacqueline Farid, RIO


O resultado da indústria em março, com alta de 0,7% na produção em relação a fevereiro, mostrou que o setor ainda está muito distante do bom desempenho anterior à crise, mas já se recupera, lentamente, do forte tombo do fim do ano passado. O processo de reação “inequívoco, suave, mas contínuo”, segundo o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, não impediu uma queda de 14,7% na produção no primeiro trimestre ante igual período do ano passado, o maior recuo trimestral em quase 18 anos.

 
Áudio: análise sobre impacto do resultado da indústria para o PIB

 

Os dados reforçaram as estimativas de queda no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, deixando cada vez mais configurada a recessão técnica no País.

 

Em comparação a março do ano passado, houve queda de 10% na produção. Os investimentos lideraram os maus resultados e a produção de bens de capital caiu 6,3% ante fevereiro; em relação a março do ano passado, caiu 23,%. No primeiro trimestre, após 22 trimestres seguidos de alta, os bens de capital recuaram 20,8%.

 

A alta de 7% na produção de veículos automotores, porém, garantiu a expansão da indústria em relação a fevereiro, por causa da redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de dezembro de 2008. Em comparação a março do ano passado, a produção de veículos continuou a cair (-18,5%) .

 

RECUO

 

No acumulado dos dois últimos trimestres, entre setembro de 2008 e março deste ano, a indústria recuou 16,7%, resultado que só teve similar no segundo trimestre de 1990. Sales admite que a reação industrial, que levou a um aumento na produção em relação a fevereiro, ainda é insuficiente para garantir ao setor desempenho positivo, como até setembro de 2008.

 

Ele salientou, porém, que a magnitude da queda da produção ante mesmo mês do ano passado (-10%), foi bem inferior aos recuos, no mesmo tipo de comparação, às observadas em fevereiro (-16,8%), janeiro (-17,5%) e dezembro (-14,7%). Ainda segundo Sales, o resultado de março foi favorecido pelo efeito calendário, já que o mês em 2009 teve dois dias úteis a mais do que no ano passado, mas não exclusivamente. “Outros indicadores mostram que é inequívoco um movimento de reação na indústria, suave mas contínuo.”

 

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, os dados do IBGE confirmam que “o fundo do poço foi atingido no primeiro trimestre, e a tendência é melhorar gradualmente”. Apesar da lenta recuperação, ele observou que a indústria mudou de nível de atividade com a crise e “para sair dele vai demorar algum tempo”. Mas acredita que uma melhora mais consistente ocorrerá “lá pelo segundo semestre”.

 

Para Ariadne Vitoriano, analista da Tendências Consultoria, a pesquisa do IBGE “continua mostrando a lenta retomada da produção industrial”. Ela diz que os investimentos impediram resultado melhor. “Para o próximo trimestre, esperamos que a indústria mostre crescimento mais expressivo, com o esgotamento do ajuste de estoques, no contexto de afrouxamento da política monetária e de novas políticas de incentivos, como a redução do IPI para linha branca.”

 

PIB

 

O péssimo desempenho industrial no primeiro trimestre confirmou as expectativas de queda no PIB no mesmo período. Para Sérgio Vale, da MB, os dados que serão apresentados pelo IBGE em 9 de junho vão mostrar uma “recessão técnica”, com queda de 2,4% na comparação com o mesmo período do ano passado e de 1,3% ante o quarto trimestre. “Ainda faltam dados para fazer a estimativa, mas dá para dizer que os dois números serão negativos, ou seja , estávamos tecnicamente em recessão”, disse Vale.

 

O economista avalia que o pior já passou e, a partir de agora, a recuperação será lenta. “Tudo isso continua a depender de lá de fora.” A MB estima um crescimento do PIB de 0,5% em 2009, mas o relatório Focus do Banco Central desta semana mostrou média de projeções de mercado de -0,30%.

 

Para o economista Rogério Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os resultados da indústria em março foram “bastante tímidos” e confirmam a recessão técnica no País, com queda do PIB, no primeiro trimestre.