Montadora anuncia demissão de 744 funcionários temporários de sua fábrica em São José dos Campos devido à queda nas vendas
Medida ocorre após adoção de férias coletivas para mais de 40% da força de trabalho nas fabricantes de veículos; sindicato convoca assembleia
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
A GM demitiu ontem 744 funcionários temporários de sua fábrica de São José dos Campos (91 km de SP), no Vale do Paraíba. É a primeira demissão em massa entre as montadoras de carros instaladas no Brasil registada depois do agravamento da crise financeira internacional, em setembro.
Em nota, a empresa informou que a medida acontece “em decorrência da diminuição da atividade industrial em geral e, particularmente, no setor automobilístico”, reflexo da crise global. E justificou que, “diante dessa nova conjuntura de mercados”, precisa adequar os níveis de produção com a demanda prevista.
A GM ainda diz no documento que vai dar prioridade na contratação dos mesmos trabalhadores “caso haja uma retomada dos volumes de vendas”. De acordo com o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, Luiz Carlos Prates, a maioria dos trabalhadores demitidos havia sido contratada na metade de 2008, com a abertura de um segundo turno de produção do Corsa. O contrato deles só venceria em julho, e havia possibilidade de renovação por mais um ano.
Prates informou que, por serem trabalhadores temporários, os demitidos não terão direito a multa de 40%, aviso prévio e seguro-desemprego. Por outro lado, vão receber férias, 13º salário e um valor que equivale a 50% do total de salários até o fim do contrato.
Na sexta, segundo Prates, a GM já havia anunciado que não renovaria os contratos de 58 temporários da fábrica de São José que venciam naquele dia.
Com os cortes, segundo ele, não há mais temporários na planta.
A unidade tinha 9.300 funcionários e passa a contar com cerca de 8.500. Ao todo, a GM conta com cerca de 15 mil trabalhadores somente nas linhas de montagem no país.
“Isso é uma demissão em massa, porque os contratos de trabalho não terminaram agora e ainda poderiam ser renovamos por mais um ano. A empresa escolheu demitir os temporários porque fica mais barato”, disse Prates. Segundo ele, o sindicato fará uma assembleia hoje com funcionários da GM de São José para discutir o corte.
A decisão da GM acontece depois de seguidos anúncios de férias coletivas entre as montadoras a partir de outubro do ano passado, quando houve o agravamento da crise e, com ela, a diminuição do volume de dinheiro disponível para financiamentos, principal modalidade de compra de automóveis.
Com a queda na venda de carros, os estoques aumentaram, o que obrigou as montadoras a diminuírem o ritmo de produção. Somente em dezembro, as férias coletivas anunciadas atingiram pelo menos 47 mil funcionários em todo o Brasil, ou cerca de 42% da força de trabalho no setor de autoveículos (que exclui as máquinas agrícolas), que contava, na época, com 110 mil empregados.
Em novembro, o setor automotivo registrou a primeira queda no nível de emprego no ano de 2008 (480 vagas foram cortadas naquele mês). Em dezembro, o número de demissões subiu para 3.208. Antes da GM, a Volvo já havia anunciado a demissão de 430 trabalhadores de sua fábrica de Curitiba. A empresa, porém, fabrica apenas caminhões.