Los Angeles Times
Quem compraria um carro de uma montadora falida? Na quinta-feira, a Deloitte & Touche, empresa encarregada da auditoria da General Motors, levantou a possibilidade de uma bancarrota da empresa, revelando no relatório anual da montadora existirem “dúvidas substanciais” sobre a capacidade da companhia continuar suas operações.
Frente a uma enorme dívida, vendas despencando e profundos problemas estruturais, tendo recebido um empréstimo do governo de US$13,4 bilhões e solicitando outros US$16,6 bilhões, a própria GM começa a falar na possibilidade de entrar com processo falimentar. No mês passado, o departamento do Tesouro reteve uma importante empresa especialista em falências de aconselhar a GM a adotar essa opção.
Os que apoiam esse recurso dizem que ele vai permitir à GM reduzir sua dívida, diminuir a conta com suas revendedoras e reformular os contratos mantidos com os sindicatos. Mas outros questionam se os consumidores, preocupados com as garantias, peças e outros assuntos, estariam dispostos a comprar um carro de uma fabricante em processo falimentar.
A GM encontra-se diante de um dilema: se não entrar com um pedido de recuperação judicial, para se proteger dos seus credores, com base no Capítulo 11 da Lei de Falências, seus profundos problemas estruturais podem jamais ser resolvidos. Mas, se entrar com o pedido judicial, as vendas podem secar, ameaçando a própria existência da montadora.
“O Capítulo 11 é definitivamente uma opção para a GM”, disse Aaron Bragman, analista do setor na IHS Global Insight. “O problema está nos danos colaterais. Além do que pode ocorrer com todas as pessoas e empresas que dependem da GM, a pergunta é: o que vai ser das vendas?”.
Parte do problema tem a ver com o fato de que montadoras não vão à falência com muita frequência. A última montadora americana a sumir do mercado, que não foi comprada e nem passou por uma fusão, foi a Kaiser Motor, que parou de fabricar sua própria linha de carros em 1955. Antes disso, tivemos o caso da Lincoln, que em 1920 entrou em liquidação judicial e foi adquirida pela Ford Motor Co. por oito milhões de dólares dois anos depois.
Além da falência da DeLorean em 1982, o exemplo mais recente foi o da Daewoo, montadora sul-coreana que faliu em 2000. Foi um desastre de vendas, com as receitas caindo 37% nos primeiros seis meses e os lucros despencando 71%.
“Não há muitos casos de falência neste setor, mas o que já ocorreu sugere que as vendas desabam”, disse o presidente da GM, Fritz Henderson, no mês passado quando a montadora apresentou um plano de negócios atualizado, onde informou que um pedido de falência em grande escala poderia custar US$100 bilhões para os contribuintes.
Essa soma seria três vezes maior do que o valor solicitado pela montadora ao governo federal para uma reestruturação, sem precisar entrar com o pedido judicial; a empresa argumentou que seria um valor realmente alto, precisamente porque as vendas entrariam em colapso. Ninguém diz que um processo falimentar ajuda a vender carros. Mas alguns afirmam que as vendas em queda da empresa refletem o fato de que, na imaginação popular, a GM já estaria falida.