Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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GM corta produção para acomodar queda nas vendas

Veículos: Montadora deixará de produzir 3,8 mil carros entre agosto e setembro; licenciamento já caiu 3% este mês

Sérgio Ruck Bueno | De Gravataí (RS)

Regis Filho/Valor

Grace, presidente da GM no Brasil, diz que montadora acompanha o mercado para ajustar a produção ao ritmo de vendas

Após a concessão de duas semanas de férias a 300 funcionários da fábrica de São José dos Campos (SP), a partir de segunda-feira, para “adequar a produção à demanda do mercado brasileiro”, anunciada no início do mês, a General Motors decidiu suspender a produção da unidade de Gravataí (RS) durante três sábados em agosto e setembro. Com as medidas, a montadora deixará de produzir aproximadamente 3,8 mil carros no período, sendo 2,3 mil no Rio Grande do Sul e 1,5 mil em São Paulo.

“A última semana não foi boa”, admitiu ontem o vice-presidente de comunicação, relações públicas e governamentais, Marcos Munhoz, que acompanhou a primeira visita à fábrica gaúcha da nova presidente da empresa no Brasil, Grace Lieblein. Segundo ele, o mercado andou “de lado” nos últimos dias, provavelmente como reflexo da “conjugação de más notícias” que incluem da crise econômica europeia e americana até o aumento das taxas de juros no país.

Na primeira quinzena o número de automóveis e comerciais leves emplacados cresceu 5% sobre igual período de 2010, para 139,8 mil, mas recuou 3,1% ante a primeira metade de julho e ficou abaixo da expansão acumulada de 8,1% de janeiro a julho (para 1,9 milhão), informou a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). “Estamos vendo as tendências para ficar perto do ritmo do mercado”, disse Grace, no cargo desde junho.

A montadora está com cerca de 4,2 mil carros no pátio em Gravataí, quando o volume ideal fica entre 3,5 mil e 4 mil

A unidade gaúcha opera dois sábados por mês, em regime de horas-extras. De segunda à sexta-feira a produção chega a 930 veículos dos modelos Celta e Prisma por dia, mas nos sábados, com menor quantidade de horas trabalhadas, o volume cai para 700 a 800, disse o diretor-geral da fábrica, Camilo Ballesty. A programação era trabalhar nos dias 13 e 27 de agosto e 3 e 10 do mês que vem, mas apenas a data de 3 de setembro foi mantida. Em nota, o sindicato dos metalúrgicos da cidade (Simgra) disse que a decisão gera “apreensão”.

Conforme Ballesty, a montadora está com cerca de 4,2 mil carros no pátio em Gravataí, quando o volume ideal fica entre 3,5 mil e 4 mil. No geral, a empresa contabiliza estoque de 37 dias de venda, entre fábricas e concessionárias. O nível é o mesmo do mês passado, mas está “um pouco acima do normal”, disse Munhoz, que já teme pela confirmação da estimativa da GM para o crescimento do mercado brasileiro neste ano, de 4% a 5%.

Outro problema, disse Munhoz, é o ritmo mais forte do licenciamento de carros e dos comerciais leves importados. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o segmento cresceu 35,8% no acumulado de janeiro a julho, para 455 mil unidades, enquanto os nacionais avançaram 1,8%. “A diferença é brutal”, comentou.

Favorecidas pelo câmbio, as importações incluem os carros trazidos também pelas montadoras instaladas no país, mas o maior incômodo é com a rápida expansão dos produtos asiáticos no mercado brasileiro, sobretudo os chineses. Conforme o executivo, o setor espera pela publicação do decreto do governo federal, previsto no programa “Brasil Maior”, para estimular a produção de veículos com conteúdo e tecnologia locais.

A indefinição sobre o assunto, disse Munhoz, atrapalha as vendas porque muitos consumidores esperam por nova redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e seguram as compras. “Acho que em alguns dias o governo deve se pronunciar.”

A presidente da GM visitou Gravataí para conhecer a expansão da unidade, que terá a capacidade ampliada de 230 mil para 380 mil carros por ano. As obras devem ser concluídas até o fim do ano, para que os dois modelos da nova família “Ônix” produzidos no local cheguem ao mercado no fim de 2012 ou início de 2013. O projeto prevê quatro modelos para a nova linha, mas ainda não está definido onde os outros dois serão produzidos.

A empresa entende que uma produção próxima de 400 mil carros por ano é limite para a fábrica. Com a expansão está prevista o terceiro turno e a contratação de mil funcionários, além dos 2,8 mil atuais.