Jaélcio Santana
Miguel Torres na coletiva com Paulinho da Força, Paulo Skaf e Sérgio Nobre |
“Estamos reféns dos produtos que vêm de fora. Todos os setores da indústria estão sendo prejudicados com a importação de produtos que poderiam ser fabricados aqui. Temos que defender o que é nosso: emprego, política de qualificação, para que o país tenha uma boa mão de obra, crescimento e boa produção.”
A afirmação foi feita por Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, durante entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira (23 de maio) pela Fiesp, Força Sindical, CUT e os dois maiores sindicatos de trabalhadores da indústria do País – metalúrgicos de São Paulo e de São Bernardo -, para anunciar o seminário “Brasil do Diálogo, da Produção e do Emprego”.
Dia e local
O Seminário será realizado nesta quinta-feira, dia 26 de maio, das 9h às 17, no Moinho Santo Antonio, e contará com as presenças de ministros, como Aloizio Mercadante (Ministério da Ciência e Tecnologia), e do vice-presidente da República, Michel Temer.
Para o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, “estamos virando apertadores de parafusos. A indústria automobilística, por exemplo, traz o carro de lá e aperta o parafuso aqui”.
Segundo Paulinho, há um desequilíbrio provocado pelos incentivos fiscais para importação, dados por alguns Estados. “A ideia é juntar forças, discutir como vamos enfrentar a desindustrialização e envolver o mundo político, o Congresso Nacional e o governo”, afirmou.
Trabalhadores e empresários estudam a desindustrialização nacional desde janeiro e definiram pontos de convergência que serão apresentados ao governo. A união dos empregadores e centrais sindicais visa aumentar a competitividade do País na conjuntura atual, que favorece o aumento da entrada de produtos importados no País devido ao câmbio.
“Não é simplesmente entregar um estudo. Queremos que as medidas sejam aplicadas, algumas no curto prazo”, disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp, citando dois aspectos emergenciais: a desoneração da folha de pagamento e a aplicação da resolução nº 72, de autoria do senador Romero Jucá, para combater a guerra fiscal.
Para Skaf, a desoneração de 20% do INSS na folha de pagamento do setor industrial não chega ao total gasto com juros. “Se podemos pagar R$ 240 bilhões por ano em juros, por que não se pode tomar medidas emergenciais que vão preservar a indústria?”, declarou.
A Resolução 72 do Senado estabelece alíquota zero do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no estado de origem, transferindo a cobrança para o destino nas operações interestaduais com produtos importados. “Estamos debatendo a fixação de alíquota de 2% a 4% na origem. Com a Resolução 72 resolvemos boa parte da reforma tributária, já que não teria motivos para ter uma guerra fiscal entre os estados”, destacou Skaf.
Situação Grave
“Olhando o Brasil de cima achamos que tudo está bem, porque os números de empregos formais estão crescendo. No entanto, são empregos precários nos setores de serviços e comércio. Quando analisamos a situação da indústria constatamos que é grave. Algumas autopeças viraram importadoras, outras trazem todas as peças do exterior e montam os produtos aqui. Não queremos ser apenas apertadores de parafusos, piorando a qualidade dos empregos. Queremos uma situação diferente, ou seja, empregos com qualidade”, declarou Paulinho.
O presidente da Força Sindical afirmou que a intenção é debater seriamente com o governo, que tem tomado medidas tímidas. “Bastaria o governo adotar barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias, além de medidas antidumping, e pararia de entrar um monte de bugigangas”, observou.
Já Miguel Torres defende uma política mais ampla do que a que está em execução hoje, especialmente com relação à qualificação profissional e à produção de bens com alta tecnologia. “A Honda demitiu centenas de operários por falta de peças importadas do Japão. Somos reféns desta política”, ressaltou.
Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, considera ideal reeditar as câmaras setoriais para resolver os problemas da indústria. “Temos que desenvolver alta tecnologia, ter empregos com mais qualidade e discutir uma relação de trabalho moderna, com representação no local de trabalho”, ressaltou
Ataque de importados
Skaf destacou que a indústria brasileira sofre ataque dos produtos importados e não é por falta de competitividade.
“Defendemos instrumentos alternativos de política monetária , redução da taxa de juros. Para cada ponto percentual de aumento na taxa Selic, o Brasil paga, por ano, R$ 20 bilhões a mais de juros”.
O documento a ser entregue ao governo mantém as críticas contra a atual política monetária e o câmbio valorizado que contribui para a avalanche de importados no mercado nacional.
Campo do trabalho
Entre as medidas defendidas pelas centrais sindicais estão a representação no local de trabalho, o fim da rotatividade de mão de obra, a ampliação dos prazos para recolhimento de impostos, a isenção do IR no pagamento da PLR (Participação nos Lucros ou Resultados) e transparência na cobrança de impostos.
“Queremos que o Fórum seja permanente”, enfatizou Skaf. Segundo ele, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 27,2% nos anos 1980, para 15,8% no ano passado. Os empregos caíram de 25,4% para 18,1%.
Fontes:
Assessorias de Imprensa da Força Sindical www.fsindical.org.br e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes www.metalurgicos.org.br