Sergio Leo, de Brasília
Um mau sinal emitido pelo setor produtivo foi captado pela Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no último trimestre: aumentou a quantidade de empresas com estoques acima do planejado, o que os analistas atribuem à frustração na demanda esperada pelas indústrias. É a primeira vez, em nove trimestres, que a indústria registra aumento de estoques generalizado. “Olhando os resultados do trimestre, os dados são positivos, mas a sondagem mostrou uma deterioração forte das expectativas”, comentou o gerente-executivo de pesquisa econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Os setores com maior excesso de estoques em relação ao planejado foram os de couros, calçados e papel e celulose, mas os resultados são bastante diferenciados conforme o setor de atividade: dos 27 setores pesquisados, 13 foram mal-sucedidos em escoar seus estoques, e 11 – entre eles borracha e álcool – tiveram maior número de empresas com estoques abaixo do desejado. As grandes empresas também vêm registrando aumento indesejado de estoques desde o início do ano, sinal de excesso de oferta.
Os mais pessimistas na sondagem industrial são as grandes empresas, tradicionalmente exportadoras e mais atentas ao cenário internacional. A pesquisa foi realizada entre os dias 30 de setembro e 20 de outubro, com 1.443 empresas de 27 setores.
Os indicadores mostram que aumentou o número dos que apontam como principal problema a falta de capital de giro e os juros altos, especialmente entre as médias e grandes empresas. Também piorou o indicador de expectativa de queda nas exportações para os próximos seis meses. Os empresários pesquisados não acreditam, porém, em queda na demanda, no emprego ou na compra de matérias-primas pelas indústrias, embora prevejam, para os próximos seis meses, uma redução no ritmo de crescimento na demanda e planejem manter o atual número de empregados e volume de aquisição de insumos.
Flávio Castelo Branco e o economista Renato Fonseca, que apresentaram os resultados da sondagem industrial, acreditam que os resultados, embora já afetados pelo clima de incerteza com a crise financeira mundial, ainda refletem principalmente as medidas de contenção de demanda comandadas pelas altas de juros decididas pelo Banco Central, no início do ano. As indicações de preocupação com crédito, notadas primeiro pelas empresas maiores desde o trimestre anterior, podem ser uma indicação de que a contração notada no mercado internacional começou a afetar as maiores empresas antes de ficar evidente para toda a economia.
Os indicadores do trimestre foram, no entanto, bastante positivos, como reflexo do ritmo forte de crescimento registrado neste ano. O nível de utilização da capacidade instalada chegou a 78% no terceiro trimestre do ano, um ponto percentual acima do resultado do mesmo período em 2007, e também em relação ao trimestre anterior. Alguns setores continuam otimistas, como os de alimentos e o de limpeza e perfumaria, que esperam até aumentar as exportações nos próximos seis meses.
A pesquisa da CNI constatou que a elevada carga tributária, a taxa de câmbio e o alto custo da matéria-prima ainda eram os principais problemas apontados pelas grandes empresas. Entre as médias empresas, a “competição acirrada do mercado” assumia o lugar da taxa de câmbio entre os três maiores problemas, quase na mesma intensidade que as taxas de juros elevadas.
Entre os 27 setores pesquisados, apenas dois – madeira e couros – registraram recuo na produção, e três tiveram contratação no número de empregados (também madeira e couros, além dos produtores de borracha). Borracha, madeira e couro também estão entre os poucos setores com expectativa de queda na demanda e na compra de matéria-prima.
Os indicadores levantados pela sondagem da CNI sugerem que, com a continuidade do aumento da população, pode haver leve crescimento nos índices de desemprego industrial em 2009, “mas nada dramático”, comentou Castelo Branco.