Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Empresas evitam demissões com medidas criativas, mas polêmicas


Marcos de Moura e Souza, de São Paulo


Trabalhar de graça por um mês, ficar de licença por até cinco anos recebendo um terço do salário ou trocar temporariamente uma função nobre por um trabalho braçal. Pressionadas pela crise e pela queda nos ganhos, empresas de todo o mundo apresentaram nas últimas semanas a seus funcionários soluções heterodoxas para cortar custos evitando, porém, demissões. Soluções que em alguns casos pecam, segundo entidades sindicais, por não terem sido fruto de negociação ou que, afirmam elas, beiram a coação.

 

O caso possivelmente mais criativo e criticado parece ter sido o da British Airways. A empresa aérea pediu a seus funcionários que se voluntariassem a trabalhar por um mês sem receber nada. O CEO da companhia, Willie Walsh, disse no mês passado que a ideia representava uma “luta pela sobrevivência”. Ele mesmo tentou dar o exemplo prometendo que diria “não, obrigado” ao salário de julho. Walsh ganha £ 61,2 mil (cerca de US$ 97 mil) por mês.

 

O sindicato britânico Unite acusou a empresa de tentar colocar os trabalhadores contra a parede. Segundo a entidade, os funcionários receberam e-mails da alta gerência pedindo que se voluntariassem ao trabalho gratuito. No fim, apenas 800 abraçaram a ideia; cerca de 4 mil aceitaram licenças não-remuneradas e 1,4 mil concordaram em trabalhar por meio período.

 

“Uma das críticas a soluções desse tipo é que não são soluções negociadas. E, além do mais, não é adotando medidas à la carte que uma empresa resolve problemas do período de crise. Essas soluções podem ajudar pontualmente algumas companhias, mas não são sustentáveis”, disse ao Valor por telefone a portuguesa Maria Helena André, secretária-geral-adjunta da Confederação Sindical Europeia (Etuc, na sigla em inglês).

 

A Etuc congrega confederações sindicais da Europa e é a interlocutora sindical reconhecida pela União Europeia. Medidas com impacto social adotadas pelo bloco têm de passar pela consulta da Etuc e da Business Europe, a entidade patronal europeia.

 

Segundo Maria Helena, a visão da entidade é que todas as medidas adotadas pelas empresas para salvaguardar empregos são bem vindas. “Mas no que insistimos é que os trabalhadores sejam consultados sobre a melhor solução para ambos os lados.”

 

Além da British Airways, outra proposta recente de preservação de empregos baseada no encolhimento do contracheque foi feita pela banco espanhol BBVA. O banco ofereceu pagar um terço dos salários dos funcionários mais antigos que aceitem sair de licença por até cinco anos. Ofereceu também um regime de semana mais curta, com salário menor.

 

Entre as soluções heterodoxas, ao menos uma foi bem recebida pelos sindicatos. Em maio, a companhia aérea KLM pediu a pilotos ajuda para trabalhos em terra, uma vez que o número de voos diminuiu e muitos deles estavam ociosos. A ideia da empresa era economizar na contratação de funcionários temporários no verão europeu. Assim, abriu aos pilotos a “oportunidade” de conhecer os bastidores da empresa. Algumas das vagas oferecidas eram de “agente de bagagens” (eufemismo para carregador de malas pesadas de passageiros antes do embarque) ou recepcionista nas salas de embarque da primeira classe. A empresa deu ainda aos pilotos a opção da continuar em folga.

 

Nos dois casos (licença ou trabalho operacional) os pilotos recebem seus salários normais. E justamente por essa razão, o sindicato dos aplaudiu a medida. O sindicato estimava em junho que apenas 100 dos 2 mil pilotos da empresa aceitaram o pedido de ajuda.

 

(Com agências internacionais)