A primeira mesa de convergência do Fórum Social Temático 2014, realizada nesta quinta-feira (23), na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, reforçou aquilo que os movimentos sociais pelo mundo vêm manifestando aos governos: “Crise Capitalista, não vamos pagar essa conta”.
O economista Ladislaw Dowbor, professor da Faculdade de Economia da PUC/SP, ressaltou em sua fala a realidade dos países europeus – desenvolvidos -, mas hoje em crise econômica e social, resultado da crise de um sistema capitalista que se esgota. “Antes, éramos os atrasados, que tínhamos que chegar lá”, disse, comparando-os com o Brasil. Para exemplificar que o modelo da economia mundial não dá certo, porque é desigual, o professor citou o PIB (Produto Interno Bruto) mundial atual, que é de U$ 70 trilhões. Segundo ele, este valor – dividindo a população em famílias de quatro pessoas – corresponde a uma renda mensal de R$ 6mil. “Isso significa que dá para todo mundo viver bem”, afirmou o especialista.
Dowbor disse ainda que a crise capitalista mundial está dividida em três eixos: ambiental, social e financeiro. Apontou o esgotamento de recursos naturais, a contaminação da água e o aquecimento global como fatores desencadeadores da crise no setor ambiental. Como desafio à crise social, acabar com a fome é o caminho. O economista explicou que 850 milhões de pessoas passam fome no planeta, enquanto, só de grãos, no mundo, há produção de mais de 1 kg por pessoa, por dia. “Não há nenhuma razão para que as pessoas passem fome”, garantiu, ao apontando o fato como fruto de sistemas de organização social equivocados.
Sobre o eixo financeiro da crise, o professor comparou o PIB mundial de U$ 70 trilhões com o faturamento dos bancos internacionais. Estes emitem papéis derivativos (“nem moeda são”) que rendem – a si próprios – U$ 670 trilhões, por “alavancagem” (sobre um dinheiro que não existe). Segundo Dowbor, de 2009 para cá, o 1% mais rico nos Estados Unidos se apropriou de 90% do crescimento nesses últimos anos. “Na realidade, ninguém está controlando o sistema financeiro”, disse. Como resultado disso, a desigualdade é um problema social agora nos EUA. “Quando o sistema financeiro chupa dinheiro dos estados para cobrir os seus buracos, ele está reduzindo as políticas sociais – portanto, gerando mais problemas à sociedade – reduzindo o financiamento das políticas ambientais, aprofundando também a situação (negativa) ambiental”, relacionou. Por isso é que as crises financeira, ambiental e social formam um tripé que se articula, finalizou.
Texto: Ana Rita Marini
Foto: Tiago Silveira