Parcela da classe E, com renda até R$ 800, sobe de 13,6% para 15,3% em janeiro, diz FGV
Classe C, cujo avanço foi uma das principais características do governo Lula, perde componentes, a exemplo das classes A e B
DA SUCURSAL DO RIO
A crise econômica chegou ao bolso do consumidor em janeiro e já se traduz em sinais de empobrecimento da região metropolitana de São Paulo. Essa é uma das principais conclusões de estudo elaborado pelo economista Marcelo Neri, da FGV, a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE. O levantamento será divulgado na quarta-feira.
Nos últimos anos, o país viveu uma explosão no crescimento da classe C (classe média, com renda familiar de R$ 1.100 a R$ 4.800, segundo critérios da FGV). O avanço de milhões de pessoas em direção à melhora da qualidade de vida e do consumo foi uma das principais marcas do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Dados da FGV mostram, no entanto, que de dezembro para janeiro deste ano a participação da classe E (com renda de até cerca de R$ 800) em São Paulo passou de 13,6% para 15,3%. O movimento interrompe a trajetória verificada ao longo do ano passado. A classe D (renda mensal de R$ 800 a R$ 1.100) registrou estabilidade em 11,9%.
Segundo Neri, os resultados sugerem que houve uma migração de pessoas das classes A, B e C para os segmentos de menor renda. A participação da classe C caiu de 56,9% em dezembro para 55,5% no começo do ano.
“Janeiro é o momento em que a crise se mostra mais clara. Antes, seus efeitos estavam restritos aos segmentos de renda mais alta. Não é apenas uma questão de sazonalidade. O início do ano marca o momento em que as decisões empresariais foram implementadas. São Paulo concentra os principais vetores afetados pela crise: o emprego formal, a indústria e o mercado financeiro”, disse.
Segundo o economista, a expansão dos mais pobres veio acompanhada de uma menor participação nas classes A e B. A participação dos consumidores com renda superior a R$ 4.800 passou de 17,7% em dezembro para 17,3% em janeiro. Ele destaca que, entre as regiões metropolitanas, São Paulo concentrou os maiores efeitos para os consumidores de renda mais alta porque eles já vinham perdendo espaço desde setembro.
“Essa crise afeta principalmente o trabalhador mais qualificado, e a consequência é que está havendo migração para outras classes. O país saiu do apagão da mão de obra para a demissão dos mais qualificados”, disse.
Classe C
Nas seis principais regiões metropolitanas do país, mais de 500 mil pessoas saíram da classe C em janeiro. A participação da classe C para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife passou de 53,8% em dezembro para 52,6% em janeiro.
“Houve uma inflexão no resultado. Se o país repetisse o que aconteceu em janeiro durante nove meses, perderia tudo o que foi conquistado ao longo dos últimos cinco anos.”
Apesar da piora em janeiro, Neri afirma que os dados de fevereiro não sugerem um novo salto negativo. “Ainda estamos calculando, vamos ter de observar a cada mês. A inflexão em janeiro foi surpreendente.”
Para o economista, os dados estão diretamente relacionados à queda na popularidade do presidente. Pesquisa do Datafolha do fim de março mostrou uma queda na taxa de aprovação de Lula, que passou de 70% em novembro para 65%. Segundo Neri, os dados do estudo em janeiro mostram uma “popularização” da crise. “As classes A e B representam apenas 15% da população. Agora, a crise atinge a todos.”