Setor registrou em novembro a maior queda no nível de vagas desde 2003, aponta IBGE; ministro prevê dezembro pior
Para economista, indicador deu “sinais muito rápidos” de piora; setores que empregam mais e exportadores lideram corte de postos de trabalho
PEDRO SOARES – DA SUCURSAL DO RIO
Afetado pela crise, o emprego na indústria não resistiu a dois meses consecutivos de queda na produção: cedeu 0,6% de outubro para novembro na série livre de influências sazonais, segundo o IBGE. Foi o pior desempenho desde outubro de 2003 (-0,7%), quando o país estava em recessão. Em outubro, o indicador havia recuado apenas 0,1%, variação tida como estável pelo IBGE.
Na comparação com novembro de 2007, o nível de ocupação da indústria ainda registrou expansão -de 0,4%-, mas já mostra sinais claros de desaceleração. Em outubro, a alta havia sido de 1,6%. Até setembro, oscilou na faixa de 2,2% a 3,5%. Para essa pesquisa, realizada diretamente com as empresas, o IBGE não divulga números absolutos de empregos.
“O efeito da crise financeira internacional já chegou às variáveis do mercado de trabalho, após dois meses seguidos de recuo da produção industrial”, afirma Denise Cordovil, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.
Além do emprego, a renda também sofreu os reflexos da crise. A folha de pagamento do setor caiu 2,7% em novembro na comparação com outubro.
No acumulado de janeiro a novembro, o emprego ainda registra expansão -de 2,4%. A folha de pagamento também se manteve em alta -6,3%. Ambos os indicadores mostraram, porém, uma tendência de arrefecimento no final do ano.
Segundo Cordovil, o mercado de trabalho na indústria sofre com os efeitos da secura do crédito, da retração das exportações e da freada no nível de confiança de empresários e consumidores. Tal cenário rebateu nas fábricas. Em apenas dois meses, a indústria viu seu nível de produção cair 7,8% -5,2% em novembro e 2,8% em outubro, na taxa livre de influências sazonais.
Para Rogério Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria), o emprego respondeu negativamente à retração da produção com uma defasagem temporal muito pequena, menor do que o habitual.
Bastou apenas um mês de aprofundamento da crise global, diz, para o mercado de trabalho se deteriorar. O economista prevê ainda novas quedas no nível de emprego tanto em dezembro quando no primeiro trimestre de 2009. “Há muito tempo a indústria não convivia com problema de emprego, como se configura agora por causa da crise”, afirma Souza.
Para Fábio Romão, da LCA, o emprego na indústria deu “sinais muito rápidos” de piora, tendência que se manterá ao longo de todo o primeiro trimestre. Uma recuperação gradual, de acordo com ele, só terá início no segundo trimestre, mas com maior intensidade no segundo trimestre.
Romão avalia que a folha de pagamento sofrerá menos do que o emprego com a contração do mercado de trabalho neste ano. Segundo ele, haverá o impacto positivo do reajuste real do salário mínimo neste ano, indexador principalmente dos salários mais baixos e do mercado informal.
Pelos dados do IBGE, setores tipicamente exportadores, na maioria dos casos, e intensivos em mão-de-obra sentiram mais os efeitos do recuo do emprego. É o caso de vestuário (queda de 9,8% ante novembro de 2007), calçados (-8,2%) e madeira (-9,9%), que exerceram as maiores pressões.
Dezembro pior
O ministro Carlos Lupi (Trabalho) disse que não se surpreendeu com a queda no emprego industrial. “Em dezembro, já tem uma queda grande, normal, por causa do final dos contratos temporários e prevíamos que ia aumentar. Deve ser um número bem maior do que habitualmente é”, afirmou. “Já era previsível que essa crise começasse a afetar a área de empregabilidade de uma maneira mais forte em dezembro.”
Para ele, janeiro e fevereiro normalmente não são meses de grande empregabilidade. “Teremos janeiro e fevereiro fracos e março voltando a ter crescimento da empregabilidade por causa do fortalecimento da economia brasileira”, disse.