GENEBRA – A economia mundial vai sofrer contração maior do que previsto até agora e a rápida alta de desemprego já constatada em 2008 vai piorar em 2009-2010, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU) numa avaliação da situação global.
A nova estimativa da ONU é de contração de 2,6% na economia mundial este ano e mais demora na recuperação. As projeções iniciais eram de que a crise econômica jogaria 50 milhões de pessoas no desemprego nos próximos dois anos, mas a ONU acredita agora que essa cifra poderá “dobrar facilmente” se a situação continuar a piorar.
As altas taxas de desemprego podem persistir por um bom tempo. Lições de crises financeiras anteriores indicam que é necessário pelo menos cinco anos para a taxa de desemprego voltar ao nível de antes da crise.
A crise social é exacerbada pelo retorno de trabalhadores da zona urbana para a zona rural e mais gente procurando a economia informal para sobreviver.
Pelo menos 60 países em desenvolvimento (de 107 com dados disponíveis) devem sofrer declínio na renda nacional. E somente sete poderão ter crescimento econômico mínimo para continuar reduzindo a pobreza.
Nesse cenário, entre 73 milhões e 103 milhões a mais de pessoas vão continuar na pobreza em comparação com a situação antes da crise. Cerca de 4 milhões a mais de pessoas na América Latina tentam sobreviver com US$ 1 por dia.
O Brasil, Chile e Costa Rica, que estavam na boa direção para cumprir os objetivos do milênio, de reduzir fortemente a pobreza até 2015, agora dificilmente alcançarão as metas previstas, conforme a entidade global.
As Nações Unidas estimam que sinais de recuperação da economia global não virão antes do fim deste ano e continuarão frágeis ao longo de 2010. O crescimento só seria mesmo retomado entre 2011-2015, quando se poderia compensar a destruição de emprego causada pela crise.
Uma recessão prolongada é possível se o círculo vicioso entre desestabilização financeira e retração da economia real não for contido pelas ações globais até agora adotadas.
Entre setembro de 2008 e este mês de maio, o valor de mercado dos bancos nos EUA e na Europa declinou 60% – ou seja, houve perda de US$ 2 trilhões em valor. A ONU alerta que, apesar da enorme depreciação de ativos e operações de socorro pelos governos, os problemas persistem. O aperto global de crédito continua, sufocando a economia real.
Boa parte dos países em desenvolvimento enfrentam dificuldades para rolar a dívida externa, com cerca de US$ 3 trilhões vencendo durante este ano.
Em 2009, mais de 100 países não terão superávit para cobrir suas dívidas e o fosso financeiro é estimado entre US$ 200 bilhões e US$ 700 bilhões. As reservas de mais de 30 países também já caíram abaixo do nível crítico para cobrir três meses de importações.
(Assis Moreira | Valor Econômico para Valor Online)