Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

CNTM

Combater as desigualdades


Por José Pereira dos Santos

O processo histórico é lento, amplo e contraditório. Portanto, a ideia de que o progresso anda em linha reta, sempre em frente, não é regra geral. Às vezes, um país está indo bem, mas acaba sacudido por uma sucessão de fatos que derrubam a economia, paralisam o governo e espalham prejuízos entre a população.

Essa regra, naturalmente, não exclui o Brasil. Aqui, apesar dos avanços econômicos, sociais e institucionais, especialmente a partir da Constituição de 1988, resta-nos ainda um pesado saldo social, que demora a ser resgatado.

Um dos setores onde essa herança se mostra mais nefasta é na esfera racial. Ao longo dos séculos, nossos índios foram massacrados pela “marcha do progresso”, acabando em reservas, para não ser dizimados. E nossa enorme população afrodescendente ainda sofre forte exclusão, ficando quase sempre à margem do progresso.

Onde se vê isso nitidamente é no mercado de trabalho. O Dieese tem alertado que o negro é o último a ser contratado e o primeiro a ser demitido. O Dieese também aponta diferenças salariais significativas entre brancos e negros, revelando que chega a ser clamoroso o arrocho salarial imposto à mulher negra.

Pesquisa de Emprego e Desemprego, de 2010, escancara essa situação: a taxa de desemprego entre as trabalhadoras negras foi de 16,9% – mais que o dobro da taxa masculina dos não-negros (8,1%). O rendimento médio da mulher negra representava 44,4% do homem não-negro e o rendimento médio do homem negro, 62% do não-negro.

A pesquisa dos institutos é importante por revelar as gritantes diferenças salariais e profissionais, bem como apontar, por exemplo, as desigualdades de oportunidades de estudo. Se ganha mal e também tem menos oportunidades de estudar, fica claro que o ciclo de exclusão do negro tende a se manter.

Pesquisas são importantes. Mas observar o que nos está próximo também ajuda a mostrar a realidade. Por exemplo: quando fazemos assembleia em fábricas, fica visível constatar que a população negra está concentrada na produção (portanto, salários menores e condições de trabalho piores), enquanto o setor administrativo é quase sempre branco.

Mesmo a política reproduz esse quadro. Câmara e Congresso, com poucas exceções, têm pouco número de negros e quase nenhum descendente de índios.

Consciência – Aponto esses fatos para prestar homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro. Reafirmo que nosso Sindicato continua a combater todas as formas de discriminação, lembrando também que o PDT, ao qual sou filiado, é pioneiro em assegurar ao negro espaço nas instâncias da direção partidária.

A humanidade é uma só. E, se na prática, não é assim, ainda, temos de nos empenhar para que um dia seja uma grande família. As diferenças naturais devem ser respeitadas, mas as desigualdades têm de ser combatidas.

José Pereira dos Santos é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região. E-mail: pereira@metalurgico.org.br