Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Música

Chico Science e Nação Zumbi interpretam “A cidade”

A cidade é um local de disputa. Disputa de poder. As grandes cidades crescem e exprimem as maiores contradições do sistema capitalista (“O de cima sobe e o de baixo desce”). Isto está claro.

Estava claro para o pernambucano Chico Science, que viu Recife e Olinda crescerem à sua frente. A partir da década de 1950 a expansão urbana levou ao enriquecimento de poucos e à ocupação desordenada nas periferias, onde muitos viviam – e vivem, trabalhando muito e ganhando pouco.

Em “A cidade”, Science se refere aos prédios que se erguiam (“pedras evoluídas”) com o trabalho de “pedreiros suicidas”, aos coletivos, automóveis, motos e metrôs, trabalhadores, patrões, policiais, camelôs, mendigos ou ricos, e da segurança que garante a lei e a ordem para que a cidade possa ser o centro das ambições. Das ambições do poder e do dinheiro.

O ano de 1993, quando a música foi gravada, foi um ano de recessão e desemprego, marcado pelo fim da Guerra Fria e pela sensação de vitória do neoliberalismo. Deste período de crise e de desemprego emergiu também uma nova onda cultural, o Manguebeat.

Um movimento crítico, mas mais irreverente e com mais influências regionais do que a fase anterior do rock nacional, muito influenciada por bandas europeias. Chico Science foi o maior representante do Manguebeat, que teve também Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, DJ Dolores e Jorge Cabeleira, entre outros. Ele morreu no auge da fama, em um acidente de carro, em 1997, com apenas 30 anos.

Fonte: Centro de Memória Sindical

A cidade

Chico Science/1993
Intérpretes: Chico Science e Nação Zumbi

O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas
Que cresceram com a força de pedreiros suicidas
Cavaleiros circulam vigiando as pessoas
Não importa se são ruins, nem importa se são boas

E a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos, e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs

A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce
A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce

A cidade se encontra prostituída
Por aqueles que a usaram em busca de saída
Ilusora de pessoas e outros lugares
A cidade e sua fama vai além dos mares

No meio da esperteza internacional
A cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos

A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce
A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce

Eu vou fazer uma embolada, um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu
Pra gente sair da lama e enfrentar os urubus
Eu vou fazer uma embolada, um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu
Pra gente sair da lama e enfrentar os urubus

Num dia de sol, Recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior