SÃO PAULO – Um inédito conflito entre as centrais sindicais e o governo do ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva pode ter começado ontem, com a inclusão do projeto que acaba com o fator previdenciário no documento com sugestões de medidas contra a crise financeira que será encaminhado ao presidente da República pelos sindicalistas no dia 3 de dezembro.
Em reunião realizada em São Paulo, as centrais bateram o martelo e incluíram a extinção do fator previdenciário (criado em 1998 para inibir a aposentação precoce) entre as reivindicações que farão parte do pacote de sugestões ao governo. A inclusão da medida representou também o apoio dos sindicalistas ao projeto de Lei nº 58/2003, do senador petista Paulo Paim (RS), que reajusta valores das aposentadorias e pensões pagas pela Previdência Social aos segurados. O presidente Lula se opõe ao projeto e já insinuou que poderá vetá-lo, se for aprovado no Congresso.
Questionado sobre a posição do governo, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, líder da Força Sindical, disse que Lula não quer aprovar a proposta que é uma das bandeiras do movimento sindical. Segundo Paulinho, o governo vai sair derrotado: “Não é um conflito aberto, mas o governo vai acabar sendo derrotado. Se quiser negociar, podemos encontrar uma medida alternativa e que não ´quebre o estado´, como ele fala”. O projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados.
Canindé Pegado, secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), disse que, apesar de o presidente se opor ao projeto, não vai haver conflito com as centrais: “Conflito não vai ter, temos que discutir. Mas o presidente sabe que vai ter que nos ouvir”. Pegado acrescentou que as centrais não estão dispostas a abrir mão da reivindicação de extinção do fator previdenciário: “Podemos discutir e se for o caso fazer alguma alteração no projeto”, disse.
Hoje, o ministro da Previdência, José Pimentel, vai ao congresso tentar convencer parlamentares a não aprovar a proposta de Paim. Pimentel, assim como outros opositores do projeto, alegam que o custo de R$ 76 bilhões, não compensa os benefícios.
Propostas contra a crise
O documento elaborado pelas centrais para minimizar efeitos da crise mundial será entregue ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, amanhã. No dia 3 de dezembro, data marcada para a marcha das centrais a Brasília, deve ser enviado ao presidente. Segundo Paulinho, a divulgação do projeto foi antecipada devido à aproximação da crise, que já está causando uma forte onda de desemprego na Europa. A principal proposta do documento é a manutenção do nível de emprego por empresas que receberam créditos do governo.
Em documento que discute medidas anticrise, centrais sindicais apóiam o projeto para o reajuste do valor de aposentadorias e pensões pagos pela previdência ao qual o governo se opõe.