Bovespa recua para o menor nível desde abril de 2007; investidores estrangeiros já tiraram R$ 910 milhões no mês
Em setembro, valor de mercado das empresas listadas na Bolsa acumula queda de R$ 315 bi; risco-país avança 35% na semana
FABRICIO VIEIRA – DA REPORTAGEM LOCAL
Com a crise internacional sem solução, a Bolsa de Valores de São Paulo aprofundou suas perdas. Com nova expressiva desvalorização ontem, de 6,74%, a Bovespa registra agora perdas de 17,55% no mês. No acumulado do ano, a depreciação está em 28,14%.
Os 45.908 pontos marcados no fechamento do pregão de ontem representaram o menor nível da Bolsa paulista desde abril de 2007.
O mercado de câmbio também refletiu o pessimismo crescente: o dólar saltou 2,41%, o que o levou a R$ 1,868.
Diferentemente do que os mais otimistas esperavam, o socorro à seguradora AIG não acalmou os investidores. O que se viu foi as principais Bolsas se depreciarem. Em Wall Street, o Dow Jones recuou 4,06%.
A Bolsa operou em terreno negativo durante todo o pregão, e todas as 66 ações que formam o índice Ibovespa -a principal referência do mercado doméstico- terminaram ontem em queda.
Com a continuidade das incertezas e os crescentes temores de que mais bancos podem quebrar nos EUA, a ordem no mercado internacional tem sido a de se desfazer de ativos mais arriscados (como ações e títulos de emergentes). Nesse cenário, o Brasil é um dos que mais sofrem, pois a Bolsa brasileira se destacava, até maio, como um dos pontos mais lucrativos do mundo financeiro -o que estimula a venda de papéis no país para compensar perdas em outros locais.
“A crise lá fora é muito séria, e o ajuste é doloroso. É praticamente impossível ficar isolado dela. A turbulência vai seguir no curto prazo e não tem como escapar disso”, afirma Alexandre Lintz, estrategista do banco BNP Paribas.
Neste mês, o valor de mercado das companhias listadas na Bovespa já encolheu aproximadamente R$ 315 bilhões.
As ordens de vendas foram muita intensas ontem, o que fez com que a movimentação financeira na Bovespa alcançasse R$ 7,46 bilhões, cifra 44% maior que a média diária registrada neste mês.
Na segunda-feira, a Bovespa já havia sofrido sua mais forte queda (-7,59%) desde o pregão de 11 de setembro de 2001. Com isso, a queda do índice Ibovespa na semana é de 12,4%.
“Estamos no meio de um momento de pânico no mercado. E as pessoas não raciocinam bem nesses momentos, o que faz com que tenhamos venda sobre venda. O pânico tem se expandido”, afirma Eduardo Ribeiro, gerente de operações da Fator Corretora.
Da máxima da Bovespa -os 73.516 pontos atingidos em 20 de maio- até agora, a desvalorização é de 37,55%. As pesadas vendas de ações protagonizadas pelos estrangeiros desde junho deixaram em segundo plano o fato de o investidor brasileiro ter evitado se desfazer das aplicações em Bolsa neste momento crítico.
A saída de capital externo do mercado acionário brasileiro neste ano está em R$ 17,02 bilhões -o que faz de 2008 o pior ano da história nesse quesito.
Nos primeiros 11 dias deste mês, os investidores estrangeiros mais venderam que compraram ações no montante de R$ 910 milhões.
Risco-país
Os títulos da dívida brasileira no exterior também têm sofrido com a venda expressiva por parte dos grandes investidores e fundos internacionais. Isso tem pressionado o risco-país, que ontem chegou ao fim do dia a 373 pontos. Na semana, o indicador subiu mais de 35%.
Nem a apreciação do barril de petróleo no mercado internacional conseguiu ajudar a Bolsa ontem, pois as ações da Petrobras, que costumam acompanhar a oscilação do produto, registraram perdas expressivas.
As ações da Petrobras chegaram a subir durante as operações, em consonância com o petróleo no exterior. O papel preferencial da estatal subiu 1,3% na máxima. Mas, com a piora do mercado, investidores e fundos não hesitaram em se desfazer das ações da empresa para embolsarem algum lucro. O resultado foi a queda de 4,79% de Petrobras PN e de 4,62% do papel ON.
Em Nova York, o barril de petróleo encerrou as operações de ontem vendido a US$ 97,16, com apreciação de 6,59%.
Para quem está com parte de seu FGTS investida em ações da Petrobras ou da Vale, o atual cenário tem exigido muito sangue-frio. A ação ON da petrolífera, que está nos fundos FGTS/Petrobras, registra queda de 29,71% em 2008.
No caso dos papéis da Vale, o pregão foi de perdas ainda maiores. A ação ON da companhia caiu 7,01%, o que levou sua baixa anual a 37%.
Apesar de os bancos brasileiros não estarem diretamente expostos aos problemas que estão afetando o setor financeiro americano, suas ações têm caído de forma expressiva. No pregão de ontem, as ações units do Unibanco perderam 6,61%, seguidas por Itaú PN, com baixa de 5,56% e Bradesco PN, que teve perda de 5,08%.