Karina Nappi – DCI
SÃO PAULO – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano e, com isso, interrompe o ciclo de três altas consecutivas. No entanto, o Brasil continua com os maiores juros reais do mundo. Na última reunião, há 40 dias, houve um aumento de 0,5% ao passar de 10,25% para 10,75%, o valor só é inferior ao de março de 2009, quando a taxa de juros estava em 11,25%.
De acordo com a nota divulgada pelo BC, a decisão foi por unanimidade. “Ao mesmo tempo em que não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo, o Copom observa a continuação do processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde sua penúltima reunião. Nesse contexto, o Comitê avalia que, neste momento, a manutenção da taxa de juros básica no nível estabelecido em sua reunião de julho proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas”, afirma a nota.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em manter a Selic em 10,75%, em uma espécie de “parada técnica”, deveria ter sido tomada há quatro meses, comprovando que os aumentos de juros foram completamente equivocados. Esse é o entendimento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), amparado, sobretudo, no fato de que o repique inflacionário do primeiro trimestre do ano ficou restrito àquele momento, como havia alertado todo momento a entidade empresarial.
“Na prática, teria sido muito mais adequado não ter promovido aumento da Selic no início do ano. Desde então, o País está gastando uma fábula com juros enquanto a inflação não se move há mais de quatro meses”, afirma o presidente da Fecomercio, Abram Szajman. “Não havia sentido em iniciar um ciclo de elevação de juros se a inflação medida entre janeiro e março não apresentou sinais de que teria combustível para continuar.”
Alguns economistas entrevistados afirmavam que haveria um aumento na Selic nesta reunião, mesmo discordando da necessidade do mesmo. Contudo, a maioria dos especialistas consultados pelo DCI acreditava que os últimos indicadores internos indicavam que o BC iria conter o processo de aperto monetário já nesta reunião. Entre esses indicadores destaca-se, principalmente, o controle da inflação, que está em declínio, depois de tornar-se mais intenso no início do ano.
Esta é a posição do presidente do Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ), José Arthur Assunção. “O ciclo de ajustes da Selic vai parar”. Ele prevê que com o retorno gradativo da inflação ao centro da meta de 4,5%, aumentam as chances de o Copom começar a reduzir a taxa básica de juros já no segundo trimestre do ano que vem.
Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, os diretores do BC foram corretos na decisão. “As condicionantes do crescimento interno continuam sólidas, com expansão da renda e do crédito, o comportamento mais ameno da inflação corrente e o aumento das incertezas globais devem dar sustentação à decisão do BC pelo fim do processo de aperto monetário”, frisa Neto.
O economista Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores, ressalta que não há motivos para alteração da Selic. “Não há instrumentos técnicos que explicam uma elevação da taxa básica. Não há uma pressão inflacionária, o IPCA terminará o ano em torno de 5%”, pontua.
“A trégua da inflação observada nos últimos dados, a queda da projeção para o IPCA de 2010 e a piora do quadro externo devem ser determinantes para a decisão do BC”, corrobora José Góes, consultor econômico da WinTrade.
O presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, espera que o Banco Central retome os cortes na Selic a partir da próxima reunião do Copom.
“A manutenção dos juros em 10,75% ao ano frustrou as nossas expectativas. Esperávamos que o ciclo de redução dos juros começasse na reunião que terminou há pouco”, destacou Andrade.
Suas previsões se baseavam na mudança de cenário registrada nos últimos meses. “A inflação e a atividade econômica perderam ritmo, abrindo espaço para a revisão do aperto monetário”, argumentou o presidente em exercício da CNI.
Segundo Andrade, com a desaceleração dos preços dos alimentos em junho e julho, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve manter-se dentro da meta fixada pelo BC para este ano.
Além disso, os últimos indicadores da atividade econômica confirmam que o forte crescimento do primeiro trimestre foi atípico e dificilmente se repetirá com a mesma intensidade no segundo semestre.
“Esta reunião do Copom deve ser a última, por algum tempo, sobre a qual pode até pairar alguma dúvida”, conclui a Rosenberg Consultores Associados.
Confirmando as expectativas do mercado, o Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 10,75% ao ano.