Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Ameaça da Volks é destrutiva, diz Sindipeças


Stella Fontes, de São Paulo

O Sindipeças reagiu duramente à ameaça da Volkswagen de substituir fornecedores de componentes automotivos nacionais por estrangeiros, sob a justificativa de que uma parte das empresas de capital brasileiro tem insistido em reajustar preços apesar de não se comprometer com a entrega de produtos de qualidade e cumprimento de prazos. Em comunicado divulgado na sexta-feira, a entidade afirma que “criticar e ameaçar a indústria nacional, com promessas de trazer novos fornecedores, é destrutivo e aponta os canhões para o alvo errado”.

De acordo com o Sindipeças, o déficit comercial do setor, inicialmente estimado em US$ 3,6 bilhões para este ano, poderá superar US$ 4 bilhões se o ritmo atual de importações se mantiver até o fim do ano. A eventual iniciativa das montadoras de ampliar compras de componentes no exterior ou apoiar a vinda de companhias estrangeiras para o país poderia comprometer ainda mais a balança comercial do setor e “estrangular” o fôlego da indústria nacional, sobretudo no que tange a investimentos.

Neste ano, conforme estimativa do sindicato, os investimentos na área devem alcançar US$ 1,33 bilhão, acima dos US$ 900 milhões aplicados em 2009. Contudo, a entidade admite que a queda das margens verificada nos últimos anos prejudica a capacidade de investimento do setor. Essa situação, combinada ao elevado nível de capacidade ociosa na Europa e nos Estados Unidos em razão da crise, tem reduzido a competitividade dos componentes brasileiros.

O embate entre os fornecedores brasileiros de peças e a montadora ganhou contornos mais drásticos há cerca de 10 dias, quando a direção da Volks, maior fabricante de veículos do país, disse estar disposta a estimular a instalação no país de fornecedores de peças de origem europeia e asiática e ainda informou que pretende triplicar o volume de aço importado em 2010.

No comunicado, o Sindipeças, que é presidido por Paulo Butori, afirma ainda estar aberto a parcerias com vistas ao diagnóstico dos “reais problemas” do setor e a buscar “soluções que não excluam importantes elos de sua cadeia de produção”.

Conforme a entidade, do faturamento total do setor de peças no país, 71% é gerado por empresas de capital estrangeiro, que também têm de lidar com o cenário macroeconômico que afeta toda a cadeia – recentemente, a indústria obteve uma vitória junto ao governo, com o fim gradativo do redutor do imposto de importação. “Quando novos fabricantes chegarem aqui, também eles terão de conviver com mais de 65 impostos e com o conhecido ´custo Brasil´, que elevarão os custos de produção e, consequentemente, os preços”, diz o comunicado.